Olá pessoal! Hoje trago pra vocês o primeiríssimo capítulo de Destino (O Voo da Fênix). Espero que não tenha ficado muito longo, conto com suas opiniões nos comentário, ok?
Beijos a todos!
PRIMEIRA
LIÇÃO – É Preciso...
Natália
acordou encharcada de suor. Mais uma vez o mesmo sonho, ou o mesmo pesadelo,
ela não sabia muito bem o que a perturbava durante todas as noites. Sentou-se
na cama por alguns minutos, enquanto as imagens, ainda vívidas em sua mente,
iam se dissipando como nuvens sopradas pelo vento. Olhou para o rádio-relógio
ao lado da cabeceira, que marcava cinco horas da manhã em letras vermelhas e
luminosas. Virou-se para a janela, tentando ver alguma claridade entre as
cortinas fechadas. Ainda estava escuro. Ela não gostava do inverno,
especialmente dos primeiros dias de frio, que castigavam o seu corpo, desde o
início do mês de abril. Sabia que não
conseguiria mais pegar no sono, uma vez que o sonho fora real demais e não
sairia dos seus pensamentos tão cedo, como era de costume. Deitou-se novamente
e cobriu-se. O suor abundante acabara por causar-lhe frio. Virou-se para o
lado, encolhendo as pernas em posição fetal, tentando espantar o sonho.
Concentrou-se em traçar metas para o dia que acabara de começar: descansaria
até às sete horas, depois tomaria banho, faria o café e sairia correndo para
pegar o ônibus que passava a duas quadras de sua casa. Viajaria quarenta
minutos e quem sabe encontraria aquela amiga que conhecera no ponto do ônibus.
As duas conversariam no trajeto até o centro e depois ela desembarcaria às
pressas e correria até o escritório, onde o dia, ela sabia seria agitado, e
finalmente não teria mais tempo de lembrar o maldito sonho!
Fechou
os olhos mais uma vez e a imagem tornou a aparecer em sua mente. Parecia um
antigo filme em preto e branco, ao qual ela não se lembrava ter assistido. Ela
era espectadora de um trágico acidente. Não conseguia definir exatamente como,
mas via uma explosão e depois muita fumaça negra. Via pessoas correndo
desesperadas, algumas em direção às chamas, outras para longe delas. Ela não se
movia, apenas olhava em volta o sofrimento espelhado nos rostos apavorados e
ouvia claramente as exclamações desesperadas de uma multidão incrédula e o som
das sirenes que se aproximavam rapidamente. Sentia o calor do sol que brilhava
intensamente queimando a sua pele branca. Então ela começava a olhar para todos
os lados, para todos os rostos e percebia que estava completamente sozinha em
meio a todo aquele horror. Sentia as lágrimas descerem pelas faces rosadas e
via-se caindo de joelhos em um campo de vegetação rala. Sentia fortemente que
acabara de perder alguém a quem amava muito e esta era uma sensação real que
ficara gravada em seu coração desde a primeira vez que tivera o sonho. Parentes
e amigos já não aguentavam mais receber as ligações de Natália, todos os dias,
mesmo de madrugada, só para certificar-se de que eles estavam sãos e salvos.
Alguns já a consideravam quase uma louca. Certa vez, seu irmão lhe respondeu
que se ele morresse, ela seria a primeira em saber, pois ele lhe puxaria o pé
de madrugada, só para acordá-la, como ela fazia com ele. Depois disso, ela
procurou moderar as ligações. Ainda mais quando recebeu a quilométrica conta
telefônica. Involuntariamente, começou a orar pela alma da pessoa morta em seu
sonho (se realmente existisse!) e para todos os parentes e amigos, para quem já
não podia telefonar para pedir notícias.
Orou
até ser interrompida pelo incessante despertador que anunciava a hora de
levantar-se. Esticou-se preguiçosamente enquanto ouvia a música suave que
tocava na rádio todas as manhãs. A melodia era lenta e a letra falava em anjos.
Ela sempre imaginava se a pessoa de seus sonhos seria um anjo. Logo afastou
essa ideia de seus pensamentos, pois sabia que Deus jamais a incumbiria de
receber mensagens de seus anjos. Ela nem era tão bondosa assim! Fizera várias
coisas erradas no decorrer de seus vinte e cinco anos e tinha consciência de
que pagaria o preço pelos seus pecados, conforme sua avó, uma católica
fervorosa, sempre a alertara. Ela estava, de certa forma, preparada para o
purgatório. Também não se imaginava indo para o inferno, visto que não era tão
má também, mas do purgatório, disso ela sabia que não escaparia! Ela também achava
que o céu era somente para os santos e os anjos do Senhor (e talvez às beatas
que não saíam das barras das batinas dos padres, se é que os padres tinham
alguma influência lá com o Criador!). De fato, há tempo ela deixara de ser
praticante de qualquer religião, motivo pelo qual era sempre criticada pela
família, principalmente pelos mais velhos, como seu pai e seus tios.
Espreguiçou-se
mais uma vez e pôs-se de pé. Caminhou devagar até o banheiro e ligou o
chuveiro, que sempre demorava alguns minutos para aquecer a água fraca que
derramava, e enquanto esperava, Natália foi até a cozinha e colocou uma
chaleira de água no fogo, para o café. Voltou para o pequeno banheiro, entre a
porta do quarto e da sala-cozinha, o que poderia ser considerado uma circulação
de pouco mais de um metro quadrado. Entrou no box, separado do lavabo apenas
por uma cortina branca de plástico mole e já meio manchado pela umidade. Fechou
os olhos por um momento, respirando profundamente e sentindo cada gota de água
percorrer-lhe o corpo esguio. Ela adorava essa sensação! Pensava que a água
podia lavar-lhe não só o corpo, mas também a alma. A água levava embora todas
as suas preocupações, os seus problemas e os seus medos, fazendo com que se
sentisse purificada e renovada. Sempre tomava banhos demorados e depois dos
rituais de higiene e alguns de beleza, aos quais sua condição financeira não
permitia exagerar, gostava de permanecer longos períodos sob o chuveiro,
experimentando o conforto do corpo e da mente em um estado de concentração e
relaxamento máximos. Nesses momentos, costumava imaginar paisagens e nuvens
passeando por um céu azulado e às vezes, pensava que ela mesma era um pássaro e
que voava livre e solta pelos céus. Nesse dia, porém, ela sentia-se deslocada e
não pôde concentrar-se como gostaria. Sentia os músculos do pescoço e dos
ombros tensos, como se tivesse carregado o mundo nas costas durante toda a
noite. Resolveu sair do banho antes do que gostaria, teria mais tempo para
preparar o café da manhã.
Terminados
os afazeres, desceu com dificuldade os quatro andares de escadas até a rua.
Suas pernas doíam, como há muito tempo ela não sentia, desde que concluíra o
tão sonhado curso de secretariado, na época em que percorria seis quilômetros a
pé, duas vezes por dia. Ao contrário do que imaginara, sua amiga do ônibus não
fora trabalhar. Natália teve de seguir sozinha até o ponto final e isso fez com
que sua mente tivesse tempo de sobra para devanear mais uma vez por um mundo de
sonhos e pesadelos, onde as imagens e as sensações da noite anterior passeavam
repetidamente pelo seu cérebro e pelo seu coração, parecendo cada vez mais
reais para ela. Quando desceu do ônibus, sentiu uma forte dor nos joelhos ao
dobrá-los, aliada uma sensação estonteante. Demorou alguns segundos para retomar
a respiração tranquila. Lembrou-se de que certa vez contraíra uma forte gripe
e, além dos estados febris, sofrera com as dores nas pernas e também com um
pouco de falta de ar. “Será que peguei
outra gripe?”, pensava enquanto se esforçava para chegar depressa ao
escritório. Trabalhava em uma famosa empresa de advocacia há três anos e havia
penado durante um bom tempo para conseguir a vaga. Não se deixaria abater por
uma gripinha!
—
Natália! Natália! — Nem bem pusera os pés em sua sala e já a chamava a voz
impaciente do chefe Marcelo Vasconcellos Ferraz. Ele era um dos três renomados
irmãos e sócios do grande escritório de direito Vasconcellos Ferraz e Cia,
muito tradicional e que atendia os principais figurões do país, políticos,
executivos de alto escalão e personalidades como artistas famosos. Ela sempre sonhara
ser advogada, mas a condição financeira da família não era favorável e ela teve
que desistir do sonho. Agora, julgava-se velha demais para voltar a estudar e o
trabalho do escritório era demasiado cansativo. Ela fazia serões quase todos os
dias, o que lhe rendia um reforço salarial que auxiliava nas despesas do
pequeno apartamento locado em um prédio antigo, mas com uma vizinhança decente,
e ainda permitia que pudesse, esporadicamente, mandar algum dinheiro para sua
mãe, pois com o salário que recebia pela aposentadoria, mal conseguia arcar com
as despesas médicas, chegando a passar necessidades.
Levantou-se
depressa da cadeira de veludo azul, elegantemente colocada na antessala do
chefe, onde ela sozinha era incumbida de permitir, ou não, o contato de
qualquer pessoa com o importante Marcelo Vasconcellos Ferraz. Ela ria ao
imaginar o antipático patrão envolto em uma capa vermelha, segurando um cetro
(como o do mago Merlin!) em uma das mãos e ainda, com uma coroa idêntica a da
rainha Elisabete na cabeça completamente careca! Sentiu uma forte pontada
atingir-lhe o joelho direito, parou por uns segundos antes de abrir a pesada
porta de madeira entalhada, que mais parecia a entrada de um teatro de luxo do
que a de um escritório de advocacia. O doutor Vasconcellos Ferraz, como o chefe
gostava de ser chamado, falava ao telefone e Natália pôs-se imediatamente a sua
frente, aguardando as ordens que viriam. Enquanto esperava, sentiu uma pontada
na nuca, como se a fisgada do joelho tivesse lhe subido até a cabeça. Respirou
fundo, tentando concentrar-se e fazer com que a dor desaparecesse. Mais uma
pontada, seguida outra vez da sensação de tontura que quase a fez cair.
Respirou fundo mais uma vez, segurando-se com uma das mãos no encosto de uma
das quatro cadeiras dispostas ordenadamente em frente à mesa de trabalho do
chefe.
—
Natália, você está bem? — ela ouvia a voz do homem a sua frente como se
estivesse a quilômetros de distância. Fechou os olhos e antes de desfalecer,
ouviu a voz do chefe gritando algo como “ajuda!”
ou “ambulância!”.
Raquel Pagno
www.raquelpagno.com
Oi Raquel, texto muito bem elaborado e escrito. Você tem boa descrição e boa comparação na narrativa. A única coisa que eu considero desnecessária são os parênteses.
ResponderExcluirFiquei curiosa, será um conto, um livro?
Beijinhos e um lindo final de semana para você.
http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br/
Olá Marli! Obrigada pela visita. :)
ExcluirOk, vou tomar cuidado com os parenteses. Rs.
É um livro.
Beijos!
Corrigindo meu comentário, vi em blog um post sobre a Raquel e me interessei bastante pelo trabalho dessa autora. Ela escreve livros no estilo literário que ao que parece são do meu agrado.
ResponderExcluirEsse novo livro parece bem promissor. Sucesso !
http://estilogeek.blogspot.com.br/
Agradeço pela visita Cibeli!
ExcluirFico feliz que tenha se interessado, espero tê-la por aqui novamente. ;)
Beijos!
Olá Raquel!
ResponderExcluirNão li o seu livro ainda, mas eu tenho uma paixão por todos os autores nacionais, mesmo sem conhecer suas obras, pois só sendo um autor em um país que poucos valorizam a leitura já é uma vitoria, parabéns pelo se trabalho, minha linda!!!
Adorei a reflexão, adoro ler estes textos curtos que de uma hora pra outra você acaba e as vezes carrega mais ensinamentos do que alguns livros. Abraços!
http://momentoliterario1.blogspot.com.br/
Olá Jonathan! muito obrigada pela visita. ;)
ExcluirEste é o primeiro capítulo do meu livro "O Voo da Fênix" que estou apresentando no blog com o título "Destino". Os leitores do blog terão acesso a todo o conteúdo do livro gratuitamente.
Os capítulos serão postados sempre nas sextas-feiras. Conto com a sua presença!
Beijos!
Gosei muito do que li, mas fiquei com gostinho de quero mais. Ah! como Natália eu também acredito que a água lava tudo e renova energias. Será que ela é sensitiva? O que são estes sonhos aterrorizantes? Bom, mas são questões para os próximos capítulos, certo? hahaha
ResponderExcluirBjs
Tânia Bueno
http://facesdaleiturataniabueno.blogspot.com.br
Olá Tania! Agradeço seu comentário e sua visita.
ExcluirPrometo muitas surpresas nos próximos capítulos, por isso a convido a acompanhar, todas as sextas-feiras. :D
Beijocas!
Olá,
ResponderExcluirQue escrita gostosa! Gostei bastante desse primeiro capítulo apresentando a protagonista, acredito que coisas misteriosas permearão os próximos capítulos. Fui surpreendido e quem sabe dê uma chance para o restante do livro! Gostei muito da capa do mesmo que eu vi no blog da Cila xD
Parabéns pela escrita Raquel! Sucesso!
Abraços!
www.umomt.com
Obrigada Matheus! Que bom que vc veio, espero vê-lo acompanhando os próximos capítulos. ;)
ExcluirA capa oficial é lindona né? Vou postar ela aqui na próxima semana, junto com o segundo capítulo. Não perca!
Beijos!
Nossa, que coincidência... acabei de ler a sinopse de O Voo da Fênix em outro blog, e já havia me interessado bastante pela história! =)
ResponderExcluirAchei muito gostoso ler o primeiro capítulo, a história me envolveu desde o início. Fiquei curiosa pelo motivo dos pesadelos e da dor física que a Natália sente. Aliás, falando na Natália, eu gostei bastante da personagem. Já estou ansiosa pelo restante!
Beijo!
Ju
Entre Palcos e Livros
Olá Ju! que bom tê-la por aqui. ;)
ExcluirFico feliz que tenha gostado, não perca os próximos capítulos.
Beijinhos! :D
Oi Raquel,
ResponderExcluirtudo bem?
Quando fui postar nossa parceria, eu descobri que você tinha liberado o primeiro capítulo aqui no blog e fui correndo ler. Acho que o início da história é muito importante, geralmente é por ele que você ganha ou perde o leitor. E o seu, definitivamente, foi de tirar o fôlego. Que história é essa?? Adorei!!!!!!!!
Desejo muito sucesso para você e estou muito feliz com nossa parceria.
beijinhos.
cila-leitora voraz
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
Olá! Estou feliz que tenha gostado, obrigada pela visita. ;)
ExcluirO livro todo será postado aqui, um capítulo a cada sexta-feira, espero tê-la conosco até o final. :D
Muito obrigada pela parceria! Beijos!
Olá, é o seu primeiro livro?
ResponderExcluirNossa muito bom, fiquei querendo mais, o que vai acontecer? O que aconteceu na verdade.
Muito bem escrito, e um ótimo começo para divulgar o seu livro.
parabéns
bjs
http://www.loveebookss.com.br/
Olá Solange! Obrigada pela visita. ;)Não é o meu primeiro livro, tenho mais quatro publicados em Portugal. Fico feliz que tenha gostado e conto com sua presença nas próximas sexta-feiras.
ExcluirBeijão!
Oi Raquel! Adorei o livro vou acompanha-lo!
ResponderExcluirBjs, comenta nessa resenha por favor ajudaria muito:
http://resenhasteen.blogspot.com.br/2014/01/resenha-dupla-cacadores-de-demonios.html
Nay, que bom que vc veio! :)
ExcluirJá dei uma passadinha lá no seu blog mais cedo. Legal a resenha.
Beijocas!
Oi Raquel!
ResponderExcluirAchei esse comecinho muito envolvente! Fiquei bem curiosa para saber mais da Natalia e o que foi esse finalzinho! Fiquei bem curiosa! Vou acompanhar aqui sempre que postar!
Adoro suas colunas e seus textos!
Esses dias li uma resenha do Herdeiro da Névoa que me deixou com muita vontade de ler!
Louca para ler e fazer minha resenha! Pelos seus textos não tem como não ser positiva!
Beijos! s2
Paula Juliana - Overdose Literária!
Olá paula, que bom que vc veio! :D
ExcluirFico feliz que goste de acompanhar a coluna, espero tê-la sempre por aqui.
As resenhas do Herdeiro da Névoa tem sido bem positivas mesmo, apesar de ter um gênero bem diferente de O Voo da Fênix, espero que curta. ;)
Um super beijo!
Oi Raquel, adorei esse capítulo que você disponibilizou aqui, deu água na boa, e agora quero muito saber o que aconteceu com Natália, e se isso tem alguma relação com os pesadelos....sexta-feira estarei aqui.
ResponderExcluirAté mais.
Leituras da Paty
Que bom que passou por aqui Paty!
ExcluirGaranto que muitas surpresas virão, não deixe de acompanhar. ;)
Beijos!
Raquel,
ResponderExcluirComo você termina o texto assim? Agora eu quero saber o que acontece!!!
Gostei muito da escrita, da abordagem, ficou bem legal!!
Beijos,
--
Priscila Yume
http://yumeeoslivros.blogspot.com.br/
Que bom que gostou! \o/
ExcluirNão perca os próximos capítulos, garanto que tem muitas surpresas vindo por aí! ;)
Beijos!