Boa leitura! Conto com seus comentários! ;)
CAPÍTULO 7
— Libertar a
humanidade! Só isso? Simples assim? — ironizou ela, novamente.
— Por favor, Jéssica,
você tem que me deixar mostrar-lhe as escrituras! Venha comigo até El Salvador,
onde o grupo de pesquisadores estará me aguardando. Deixe-nos mostrar pra você
as evidências, você lerá as profecias com seus próprios olhos e entenderá tudo.
Eu não precisarei explicar o que elas significam, porque assim que você puser
os olhos nelas, entenderá. Dê-me uma única chance... Você verá que não estou
maluco.
— Oh, meu caro Victor,
eu não penso que você esteja maluco. Apenas, entenda-me quando eu digo que não
creio nessa história de religião, misticismo, astrologia ou qualquer outra
forma não física de interpretar os mistérios do universo. Eu sei que o conhecimento
adquirido pelo homem ao longo das eras é muitíssimo pequeno comparado ao que
ainda não se sabe, e que muita coisa foi perdida no decorrer dos milênios. Como
você mesmo me disse, durante a “era das trevas”, como vocês religiosos se
referem à Idade Média, foi que a humanidade sofreu o que eu chamo de maior
prejuízo histórico e científico de todos os tempos. Nunca tantos documentos,
tantos livros, tanto conhecimento foram destruídos quanto na época em que a sua
Igreja dominava a terra, por assim dizer. A ambição, o poder, as riquezas
bastaram para que o homem perdesse sua essência para sempre. Esquecemo-nos dos
verdadeiros valores, do verdadeiro motivo pelo qual fomos concebidos e pelo
qual ainda estamos vivos até hoje. A vida é muito mais do que dinheiro e
status. A vida é uma sucessão de acontecimentos que se manifestam através do
amor.
— Viu só, foi por isso
que escolhi você, minha querida, para caminhar comigo por esta difícil estrada.
Eu sabia que você compreenderia os motivos pelos quais as profecias foram meio
que, codificadas. Para que as pessoas de má índole não conseguissem decifrá-las
e somente aqueles escolhidos, os puros de coração, como você, seriam capazes de
entendê-las.
— Não sou pura de
coração, Victor. Não foi isso que eu quis dizer.
— Sim, eu não estou
elogiando sua modéstia. Apenas afirmo que você ainda é uma pessoa capaz de amar
outros seres, nossos irmãos. E isso é simplesmente maravilhoso!
— Quando eu falo em amor, refiro-me a todo e
qualquer tipo de amor. Qualquer manifestação é válida, desde que seja sincera e
venha do fundo de nosso ser.
— Eu chamo de alma. Ou
de espírito.
— Eu chamo de coração e
de cérebro. Não importa o nome que dermos, o importante é que você está me
entendendo, certo? Eu digo e repito: toda forma de amor é válida. Eu, por
exemplo, amo muitas coisas ao mesmo tempo, mesmo sem ter um companheiro para
dividir os meus dias e, digamos, procriar.
— Procriar?
— Sim, procriar. Um
filho seria o próprio amor, vivo, dentro de uma mulher. Teria de ser muito
especial para acontecer. Deveria ser um acontecimento minuciosamente planejado
na vida das pessoas, mas não é isso o que acontece, na maioria dos casos. A
gente ainda é obrigado a ver crianças passando fome e frio nas ruas, todos os
dias, quando nós, os cidadãos de bem, saímos de nossas casas, muitas vezes do
seio de nossas famílias para ir ganhar o pão de cada dia. E isso é a coisa mais
absurda que já existiu! Somos obrigados a conviver com um montão de injustiças
diariamente e fazer de conta que elas não existem, simplesmente para poder
continuar sobrevivendo. E o pior de tudo é que somos forçados a conviver com a
nossa própria impotência perante esta sociedade podre que está aí! O sistema
inteiro não funciona, se é que algum dia funcionou! O respeito entre as pessoas
é praticamente nulo! Agora somos prisioneiros de nossas próprias casas, já não
podemos sair à noite, nos raros momentos de folga, para contemplar as estrelas,
a lua, ou simplesmente olhar para o céu nublado ou coberto de chuva. Tememos
por nossas vidas e pelas nossas carteiras também, onde guardamos o maldito
dinheiro, necessário para o sustento das famílias. Bendito o dia em que
inventaram a agricultura e abençoados sejam todos os agricultores que ainda têm
a oportunidade de plantar seus próprios alimentos e se desvencilhar ao menos
parcialmente desse sistema capitalista podre! — ela fez uma pausa e respirou
fundo.
Victor percebeu que pequenas e brilhantes
lágrimas começavam a molhar o canto dos olhos de Jéssica. Ela ficara exausta
depois de tudo o que ouvira e dissera. Já era hora de ir embora e deixá-la em
paz para que pudesse refletir sobre sua proposta e quem sabe, dar-lhe uma
resposta positiva ao convite de unir-se ao grupo. Se conseguisse levá-la para
El Salvador, seria bem mais fácil convencê-la, visto que as suas “provas
científicas” seriam apresentadas a ela pelos profissionais das mais diversas
áreas. Era mais fácil ser convencida por um colega astrônomo do que por um
padre de setenta anos, ele sabia.
Sairia da casa da moça
com o seu coração em paz e aliviado, pronto para enfrentar novamente o
desespero das ruas da violenta São Paulo. Depois de tanto tempo, ele ainda não
se acostumara com o ritmo de vida na cidade da garoa. Nesse dia ventava muito e
ele estava com frio. Ainda usava sua batina, todos os dias. Certos hábitos
depois de adquiridos são como vícios e ele não pretendia perder esse. Voltaria
a pé para o pequeno quarto da casa paroquial da capital, onde conseguira abrigo
temporariamente. Dobrou à direita na primeira esquina. Sentia algo estranho no
ar, no vento forte e enfumaçado do trânsito e tanto frio ao mesmo tempo. Na
próxima esquina tinha de virar à esquerda ele sabia, mas seus pés já não
queriam levá-lo adiante. Era como se algo o segurasse. Olhou para trás e mal
pôde acreditar no que via. Só podia ser uma alucinação. Seus velhos olhos
certamente estavam lhe pregando uma peça, não das mais engraçadas.
Raquel Pagno
www.raquelpagno.com
HAAAA Raquel! Como vc termina assim??? O Que será que Victor viu? OMG! kkkkk
ResponderExcluirTo adorando ta?
Bjo bjo^^
Oi Ana Paula,
ExcluirEntão, precisava um pouquinho de mistério né? hehehee
Obrigada por acompanhar! Beijos! :D