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CAPÍTULO 12
Ricardo ainda a
esperava no corredor. Lia um jornal da semana passada e contou que também fora
interrogado, informalmente, ali mesmo. Jéssica estava visivelmente nervosa.
Sentiu-se acusada de crimes dos quais ela nem tinha conhecimento, ainda que não
a tivessem acusado diretamente. Como ela poderia ter espancado pessoas até a
morte? Era notável que não poderia. Também não conhecia ninguém “barra pesada”
que pudesse tê-la envolvido em um caso como esse. Victor, apesar das sandices
nas quais vinha fazendo-a acreditar ultimamente também não parecia se envolver
com esse tipo de pessoas. Ele chegara a citar seu grupo de estudos, mas sempre
se referiu a eles como sendo profissionais sérios e cultos, atuantes nas mais
diversas áreas, principalmente ligados ao estudo, pesquisa e desenvolvimento e
que não se assemelhavam de maneira nenhuma a baderneiros lunáticos ou fanáticos
de qualquer espécie. Não poderiam ser eles os responsáveis pelos crimes.
Jéssica pediu que
Ricardo a levasse de volta ao hospital, mas ele insistiu que parassem em uma
lanchonete antes, visto que já era tarde e ela não tinha se alimentado ainda.
Ela resistiu, mas estava mesmo com fome e acatou a sugestão.
— O que exatamente eles
queriam com você? — perguntou ele, curioso.
— Não sei. Não entendi
muito bem, mas parece que um bando de malucos. Segundo a polícia, é mais ou
menos como se tivessem inventado uma nova religião, com direito a apocalipse,
fim dos tempos, essas coisas que toda religião tem. Acho que, quando Victor e
os seus amigos desvendaram os textos e suas traduções originais, esses caras se
sentiram roubados e traídos. A intenção deles poderia ser divulgar sua própria
versão, mas Victor e os outros descobriram suas mentiras. E agora eles estão se
vingando dessas pessoas.
— Ou livrando-se das
pedras nos seus sapatos?
— É, pode ser que
tenham tentado matar Victor. Acontece que o delegado acredita que o tenham
deixado viver de propósito, só para despistar qualquer suspeita que recaísse
sobre ele e o seu grupo. A polícia acha que Victor foi cúmplice nas cinco
mortes. Acham que se ele fosse inocente, teria sido morto também.
— Sim, mas ninguém
cogitou a possibilidade de ter sido apenas uma tentativa de assalto, como
tantas que vemos todos os dias? E se não houver conspiração alguma e tudo não
passar de um grande mal entendido?
— Você tem razão. Acho
que não há com o que nos preocuparmos. Mesmo que o delegado esteja convencido
de que Victor tenha alguma coisa a ver com isso, as investigações vão provar o
contrário.
Terminaram o almoço
improvisado e voltaram para o hospital. Victor continuava inconsciente, mas os
médicos garantiram que o coma era induzido e que seu quadro era estável. Mesmo
assim, Jéssica queria ficar ali até que ele acordasse. Precisava perguntar-lhe
sobre o que acontecera e queria saber tudo sobre o que acontecera, porque até
agora, ninguém tinha sido suficientemente claro com ela. Tinha que entender
para se proteger de um possível ataque, pois se já sabiam até mesmo onde ela
morava, era bem possível que a estivessem seguindo, como Ricardo
suspeitava. Mas não deixaria que a
machucassem, nem que voltassem a perturbar a vida de Victor para El Salvador.
Se o delegado tivesse razão e a conspiração fosse mesmo verdadeira, ela mesma
teria que agir por Victor e impedir que seu nome fosse jogado na lama. Ele não
era um monstro como eles pensavam e ela sabia disso melhor do que ninguém.
Ainda mais depois de ouvir a sua história, mesmo que incompleta. Victor era
apaixonado pela vida e tinha um grande respeito por seus semelhantes. Jamais
compactuaria com assassinos. Nunca! Ela sabia.
O médico passou
apressado pelo corredor em frente. Ricardo percebeu que fora chamado com
urgência até o quarto onde Victor era mantido. Jéssica parecia não ter-se dado
conta. Ele achou melhor não comentar. Passaram alguns minutos até que o médico
saísse da UTI e se dirigisse até ela. Ricardo se aproximou, queria ouvir melhor
o que eles conversavam.
— Você é da família do
padre?
— Não, sou uma amiga —
respondeu ela.
— Precisamos contatar
alguém da família. Ele terá que passar por uma nova cirurgia para a retirada de
um coágulo no cérebro, mas só podemos executar esse procedimento com
autorização da família.
— Coágulo? Oh, meu
Deus! Ele é italiano, como o senhor já sabe e não tenho nenhum endereço, ou
número de telefone de qualquer pessoa da família. Nem sequer sei se ainda tem
alguém vivo.
— Então deve entrar em
contato com alguém da Igreja, ou de onde ele mora, precisamos dessa autorização
com urgência, ou então...
— Ou então?
— Não sabemos quanto tempo
levará para que o coágulo se rompa e se isso acontecer não teremos mais o que
fazer.
— Mas o senhor garantiu
que o quadro dele era estável, algumas horas atrás. Como pode agora estar
dizendo uma coisa dessas?
— Só recebemos os
resultados dos exames agora e embora o coágulo esteja alojado muito próximo do
cérebro, ainda não afetou nenhuma parte vital, como visão, audição ou
coordenação motora. Foi muito difícil detectá-lo. Agora, por favor, apresse-se
se quiser que salvemos seu amigo. — O médico virou-se e entrou novamente pelo
corredor estreito. Ricardo aproximou-se e tocou o ombro de Jéssica.
— Vamos até a casa
paroquial onde ele morou durante esses últimos meses. Com certeza encontraremos
alguma pista de sua família. Ele deve ter uma agenda telefônica ou coisa
parecida, não é? Nessa idade geralmente a memória já não é mais a mesma. — O
bom humor de Ricardo a agradava. Ele tinha o dom de tornar as coisas fáceis,
mesmo que não parecessem.
Raquel Pagno
www.raquelpagno.com
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