Boa leitura!
CAPÍTULO
18
O hospital parecia sombrio a essa hora da
noite. Ele retomara a consciência pouco antes de escurecer. Via vultos atrás da
porta de vidro martelado, andando para ambos os lados, incessantemente. Alguma enfermeira ou médico, pensou equivocadamente. Quis apertar a
campainha, avisar que estava acordado, quem sabe saísse da UTI, mas achou mais
seguro esperar o clarear do dia. Precisava convencer os médicos a deixarem-no
procurar por Jéssica, antes que o pior acontecesse. Aquela fora uma forma
inteligente de neutralizá-lo. Ele só esperava que não fosse tarde demais.
Voltou a dormir.
***
A noite fora longa para Ricardo. Não pregou os olhos, vigiando caso
algum animal se aproximasse. Jéssica insistiu em passar a noite inteira em cima
de uma árvore, abrigando-se. Ele temia uma queda que lhe provocasse a fratura
de algum membro. Isso o obrigaria a chamar ajuda e os inimigos, seja lá quem
fossem, descobririam onde estavam.
Ainda duvidava da versão de Cornélio de que ela estava sendo caçada.
Para Ricardo, ele mesmo queria tirá-la de circulação para deixar Victor mais
sozinho e indefeso do que já estava, ou simplesmente para obrigá-la a contar os
segredos que ele lhe confiara. Conhecia-a bem o suficiente para saber que
jamais trairia Victor, mesmo sob tortura. Se ele lhe pedira segredo, certamente
esse segredo estava bem guardado. Nem ao menos ele ousara lhe perguntar do que
se tratava. Não queria saber mais do que já ouvira durante o percurso, nas
conversas de Cornélio com Jéssica. Esses assuntos não lhe diziam respeito e
apenas estava ali para ajudar a amiga.
— Cornélio não foi muito esperto trazendo-me com vocês. Será que ele
pensou que eu ficaria passivo diante de um absurdo desses?
— Não sei o que dizer. Na verdade nem sei o que pensar. E se ele não
estiver mentindo? O que faremos daqui para frente? Pra onde vamos?
— Como você pôde confiar em Cornélio, depois de tudo o que ele lhe
fez? Será que não aprende? Ele foi desonesto com você quando anunciou a sua
descoberta como se fosse dele. Foi desonesto de novo quando dispensou o público
que assistiria à sua palestra sobre as explosões solares e foi desonesto também
quando a impediu de ingressar na Academia Brasileira de Ciências. Como pôde
confiar nele?
— Eu não disse que confio nele. Você sabe que não sou muito fã de
Cornélio, mas alguma coisa me diz que ele estava falando a verdade.
— E o que a fez pensar isso?
— Eu não sei, Ricardo — ela fez uma pausa e respirou fundo, encarando
o amigo — Eu não sei.
Caminharam durante horas a fio. Os seus pés doíam pelo atrito dos
sapatos apertados e pelas pedras do caminho que maltratavam as solas, sem
piedade. Ricardo sugeriu que voltassem para a rodovia, mas Jéssica achou muito
arriscado. Em algum lugar, Cornélio os estaria esperando. Ele sabia que não
tinham pra onde ir, teriam de voltar para casa mais cedo ou mais tarde.
Continuaram pela estrada de chão. O sol castigava seus corpos sedentos, quando
um barulho de motor chamou sua atenção. Pensaram em se esconder, mas ao seu
redor viam apenas o campo verde de pastagens, até a linha do horizonte. Pararam
à beira da estrada.
Um caminhão de carga perigosa transitava por ali. Ao passar por eles,
o homem estacionou logo à frente. Jéssica pensou se Cornélio já os havia
localizado, mas logo viu que seria absurdo. Ele não poderia ter mandado um
caminhão de carga atrás deles, seria perigoso demais.
— Olá! O que fazem por aqui? É muito arriscado caminhar por esse
deserto, ainda mais com uma mulher ao lado, rapaz. — disse o caminhoneiro para
Ricardo.
— Oi! É que nós tivemos problemas com o carro logo ali atrás e... Bem,
não tínhamos alternativa a não ser continuar nosso caminho a pé — mentiu ele.
— Que estranho, não me lembro de ter visto nenhum carro quebrado ali
atrás. Mas isso não importa. Querem uma carona?
— Pra onde está indo?
— Não muito longe daqui, mas posso deixá-los em uma oficina no
caminho, aí poderão vir direto com o guincho buscar o seu carro.
— Só um momento, por favor — pediu Ricardo, afastando-se um pouco do
caminhão, puxando Jéssica pelo braço.
— O que você acha, Jéssica? Será que é seguro?
— Eu não sei, mas tenho certeza de que ele não sabe nada sobre nós. É
apenas um trabalhador, tentando ajudar. Vamos com ele, pelo menos até um ponto
mais perto, daí poderemos voltar procurar a polícia. Cornélio não fará nada
conosco se registrarmos uma queixa contra ele na delegacia. Ele tem uma
reputação a zelar.
— Está bem. É você quem manda — concordou ele. No fundo, ele sabia que
não tinham outra opção. Ainda estavam longe demais para refazer o caminho a pé.
Jéssica não aguentaria mais uma noite ao relento.
Subiram na cabine, ao lado do homem, que não parava de falar nem um
minuto.
— Meu nome é Rogério Alagoas. Sou caminhoneiro desde os meus quinze
anos. Naquela época não era preciso ter carteira de motorista e não existiam
essas frescuras todas de hoje em dia. As coisas eram simples... — contava ele.
Quatro horas se passaram até chegarem a uma oficina mecânica. Fizeram
todo o trajeto pelo interior, sem voltar para a rodovia federal. Não tinham
encontrado outros automóveis circulando por ali, apenas mais dois ou três
caminhões, com o mesmo tipo de carga.
— É mais seguro para nós levarmos carga perigosa por aqui. Demoramos
três vezes mais, mas ainda assim vale a pena — explicava ele. O homem desceu do caminhão e entrou na
oficina junto com Ricardo. Pediu a Jéssica que esperasse ali mesmo. Ela
insistiu em acompanhá-los, mas o homem negou. — Aqui não é lugar para uma dama
como a senhorita — disse ele. Ela observou-os negociando com o dono da oficina,
que parecia ser um velho conhecido do caminhoneiro. Desceu do veiculo bem
devagar. Entrou sem bater à porta.
— O que faz aqui? Pensei que tivesse pedido que esperasse no caminhão
— disse rudemente o homem.
— É que eu... precisava... de um banheiro... — improvisou. O mecânico
apontou para um corredor apertado e lhe disse ser a última porta, nos fundos.
Ela entrou no cubículo imundo, onde permaneceu mais alguns instantes. Quando
voltou, Rogério já havia ido embora. Não foi difícil para Ricardo desmentir
toda a história e dispensar o guincho. O dono da oficina não ficou muito
satisfeito com as desculpas do casal, mas preferiu não arranjar confusão.
— Mais duas horas! Meus pés já não aguentam mais! — reclamava ela —
Será que nunca vamos chegar a algum lugar! Não achei que estivéssemos tão longe
da civilização!
— E não estamos, olhe — disse Ricardo apontando para uma casa isolada
ao longe. Aparentemente era uma sede antiga de fazenda.
— Vamos até lá. Eles devem ter um carro, podemos barganhar uma carona,
que tal?
— E temos um plano “B”? E eu não trouxe nenhum dinheiro, minha bolsa
ficou no apartamento. Mesmo que eu soubesse onde estou, não poderia sequer
chamar um táxi!
— Não se preocupe. O que eu trouxe no bolso deve ser o suficiente para
garantir nossa volta — tranquilizou-a.
A viagem não foi longa, afinal estavam mais perto de casa do que
pensavam. A moça da casa dirigia feito uma louca pela estrada e mais ainda
quando chegaram ao asfalto.
— Temos sorte de ainda estarmos vivos! Pensei que aquela maluca fosse
nos matar no caminho! — exclamou Ricardo.
— Não exagere, Ricardo. Vamos logo pro hospital. Preciso ver como
Victor está. Temo que quando ele acordar corra sério risco de morte. Com
certeza não o deixaram vivo de propósito. Devem ter-se equivocado, achado que
já o tinham matado. É muito perigoso deixá-lo sozinho em um momento como este.
— Você está certa. Vamos pra lá imediatamente. Tem o telefone de algum
taxista? — brincou ele, acenando para um dos táxis que passavam por ali.
Oi Raquel!
ResponderExcluirVou ter que começar de novo, tive alguns problemas e não pude acompanhar este conto! :(
bjo^^
Oi Raquel!
ResponderExcluirInteressante, porém como peguei um capítulo adiantado, vou voltar para ler os anteriores.
Um final de semana esplendoroso!!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Não sou uma leitora que costumar ler pela internet, mas depois de ler alguns capítulos fiquei super curiosa. É uma leitura super intigante e que prende o leitor de uma maneira inusitada e envolvente.
ResponderExcluirAinda estou perdida, não adianta querer ler do meio não é mesmo?
ResponderExcluirBjs, Rose