Boa leitura!
CAPÍTULO
23
— Eu não posso viajar
assim, preciso ao menos passar em casa e pegar algumas roupas antes. E tem
mais, o delegado me advertiu que não me ausentasse da cidade. Acho que sair
daqui agora pode ser muito perigoso, eles vão achar que tenho alguma coisa a ver
com os crimes. — explicava ela aflita.
— Mas é preciso, filha.
Quando a verdade toda vier à tona, eles vão acreditar na sua inocência.
— O detetive está nos
seguindo. Ele não vai nos deixar sair do país. Como vamos despistá-lo?
— Vá até a casa paroquial,
onde estou hospedado. Diga ao padre Miguel que os médicos mandaram buscar
minhas roupas e quando ele deixá-la sozinha no meu quarto, pegue o caderno
escondido dentro de uma bíblia falsa, na prateleira de livros no nicho atrás da
porta de entrada. Lá você encontrará o
endereço e o telefone do doutor Eduardo Miller. Ele dará um jeito de tirar você
do país em segurança.
— Eduardo Miller? O
grande Eduardo Miller? Já ouvi falar dele muitas vezes pelos corredores da USP.
É um físico dedicado, já publicou várias teses e comprovou que muitas das leis
da física que conhecemos, na verdade, não passam de fraudes.
— É isso mesmo, minha
filha. Você acha que alguém tão brilhante como Eduardo Miller se deixaria levar
por uma bobagem qualquer? Ele lhe contará mais detalhes e então você perceberá
como não estou ficando maluco — disse ele.
— Ora, Victor, não fale
assim. Você sabe que eu não o acho doido, mas ponha-se no meu lugar. De repente
você me aparece do nada e começa a falar sobre profecias associadas justamente
às minhas descobertas a e antigas civilizações, como quer que eu me sinta? Tudo
isso ainda é muito novo para mim. Eu preciso saber de tudo, desde o início,
senão não conseguirei compreender. Por que você nunca me falou nada sobre isso?
— Porque tive medo que
você tivesse a reação que está tendo agora. Eu sabia que não acreditaria em
mim. Preferi levá-la para El Salvador antes, assim você ouviria da boca de seus
colegas de profissão. Seria muito mais confiável para você. Agora vá, depressa!
Entre em contato com Eduardo Miller. Ele está a sua espera.
— Eu vou até lá. Mas
não sei se Miguel vai me receber outra vez. Eu e Ricardo já estivemos no seu
quarto na casa paroquial. Eu peguei alguns dos seus livros, emprestados é
claro, e também algumas anotações da gaveta do seu criado-mudo. Você guarda muitas
coisas estranhas lá, heim.
— São frutos de muitos
anos de pesquisa e investigação. Miguel já deve ter revistado o quarto inteiro,
mas duvido que tenha encontrado alguma coisa que o ajude. Vá, minha filha, só
você poderá me ajudar agora. — Victor parecia exausto. Conversara somente o
necessário, mas ainda estava muito fraco e, segundo os médicos, não devia estar
gastando suas preciosas energias dialogando desta forma.
Jéssica contou para
Ricardo sobre o pedido de Victor. Ele contestou dizendo que era uma grande
loucura, mas ela insistiu e não lhe deixou alternativa senão irem juntos.
Jéssica achou melhor chegar à casa paroquial num momento em que Miguel não
estivesse por lá. Em algum momento ele teria de sair e seria a hora perfeita
para entrarem no quarto de Victor sem serem reconhecidos. Falariam com algum
seminarista ingênuo que certamente tomava conta da recepção, marcando batismos
e casamentos.
Ricardo estacionou na
esquina do quarteirão à direita. Procurou não se aproximar demais e cuidou para
que pudesse enxergar a porta principal. Não teria como não ver Miguel sair. Só
esperava que eles não tivessem encontrado o caderno de anotações antes de
Jéssica. O tal Eduardo Miller parecia ser famoso demais para manter seus
contatos na lista telefônica.
— Olhe! É ele!
— Até que enfim! —
suspirou Ricardo, aliviado.
Raquel Pagno
www.raquelpagno.com
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