Boa leitura!
CAPÍTULO
24
Jéssica se encolheu e
escondeu-se atrás de um dos muros ao seu redor. Podia ser que os homens
entrassem por aquela rua e então sua tentativa estaria comprometida.
Passaram-se alguns minutos. Miguel e o outro padre mantinham-se de pé à porta
da casa paroquial, conversando e gesticulando. Ricardo ficou em dúvida se realmente
sairiam de lá, mas logo, os dois caminharam em direção à igreja matriz. Miguel
estava vestindo uma batina branca, com adornos dourados, ela reparou. O outro
padre apenas trajava uma batina bege com o colarinho da camisa branca, vestida
por baixo, aparecendo.
— Será que vai rezar
alguma missa especial? — perguntou Ricardo. Na verdade isso não tinha a menor
importância, desde que o homem saísse dali para que os dois pudessem penetrar
como desconhecidos no quarto de Victor.
Esperaram mais algum
tempo, até se certificarem de que os dois não voltariam tão cedo. Jéssica viu
quando Miguel entrou pela porta da sacristia na grandiosa matriz. Estava claro
que iria demorar um bocado.
— Vamos! — sussurrou
para seu fiel companheiro. Depressa, antes que voltem! — e ele a seguiu. Ao se
aproximarem, Jéssica percebeu imediatamente que a porta da frente estava fechada.
Pensou se não estariam mais em horário de expediente, o que era bem pouco
provável a julgar pela hora do dia. Depois veio-lhe a ideia de que Miguel
poderia ter armado para que alguém entrasse no quarto de Victor para
revistá-lo. Ela se recordou do que ele falara no dia anterior: “Vamos recolher
o material depois das seis, quando a casa paroquial já tiver terminado as
atividades nas quais tem estado envolvida, para não atrair atenções
desnecessárias.” Tornou a olhar no relógio de pulso dourado e constatou que
ainda eram quatro e meia. Teriam se antecipado? Seria muito má sorte para um
único dia.
Ricardo aproximou-se da
porta e tentou espionar por uma das pequenas frestas laterais. Não conseguiu
ver nada além da imagem de São Jorge. Havia uma campainha ao lado, na parede,
mas ele achou melhor não usá-la. Bateu à porta, causando um barulho oco na
madeira velha. Nenhuma resposta. Bateu de novo e mais forte desta vez. Nada
aconteceu. Jéssica irritou-se e enfiou o dedo na campainha com força. Ouviram
passos. A porta abriu-se com um ruído alto, vindo das dobradiças enferrujadas.
Como imaginou, um jovem seminarista atendeu-os.
— Pois não? Posso
ajudá-los? — disse o rapaz com uma voz suave, como parecia ser hábito de muitos
padres.
— Sim, na verdade pode,
sim. — gaguejou ela, estendendo a mão para o rapaz — Meu nome é Jéssica Salles.
Eu vim a pedido do padre Victor Bonaventura...
— Ah! Sim! O pobre
padre Victor! Que coisa horrível lhe fizeram, não é mesmo? — interrompeu o
rapaz.
— É, sim, foi por isso
que viemos...
— Quer dizer que já
sabem como aconteceu? Vocês não são da polícia, são? — interrompeu ele, mais
uma vez.
— Não, não somos
policiais... — Jéssica tentou argumentar e foi mais uma vez interrompida pelo
jovem sedento de informações. Ela detestava quando era interrompida e o rapaz
estava sendo profundamente irritante com ela. Será que ele não sabia ouvir
antes de falar? Não era isso que os padres faziam, ouvir as preces e as
confissões de seus fiéis? Era visível a falta de vocação do jovem seminarista.
— Ainda bem que não
são. O padre Miguel detesta policiais. Diz que atrai maus agouros para a Igreja.
Já sei! São parentes do padre Victor, não é? Eu sabia que não poderiam ter
morrido todos! O padre Victor não merecia mesmo passar o resto dos seus dias
sozinho! Ainda mais agora, depois desse terrível acontecimento! Que Deus tenha
piedade do seu filho! — Jéssica estava pasma. Nunca vira alguém fazendo tantas
suposições em tão pouco tempo. Achou melhor apenas concordar e ir direto ao
assunto. A disposição do jovem era tanta, que se fossem dar atenção a tudo o
que ele estava disposto a dizer, era possível que Miguel e o outro voltassem
antes de eles conseguirem entrar no quarto de Victor.
— É, você é muito
esperto! Viemos a pedido do médico que está tratando nosso querido... Tio. —
mentiu Ricardo. — Precisamos de algumas roupas limpas e também uns livros para
distraí-lo um pouco.
Jéssica achou a saída
de Ricardo genial. Ela mesma não teria sido capaz de inventar desculpa melhor para
sair dali com uma bíblia embaixo do braço. Desta vez não pudera trazer sua
bolsa enorme consigo.
— Livros? Então ele já
está acordado? O padre Miguel ficará contente em saber! Estava ansioso por lhe
fazer uma visita. Creio que eu também vá até lá para vê-lo.
— Com certeza ele
ficará contente em recebê-los, assim que receber alta hospitalar. Mas creio que
antes disso não será possível. O médico quer que ele fique em repouso absoluto,
não pode ao menos receber a nossa própria visita. É uma pena. Mas garanto que
em breve ele voltará para cá e então vocês terão muito tempo para conversar.
— Está bem. Então não
vou contar isso ao padre Miguel, por enquanto. Acho que ele não gostaria de
desrespeitar o repouso do seu tio, não é mesmo?
— Sim, por favor, não
conte nada a ele ainda. Será melhor assim — arrematou Ricardo, já entrando pelo
corredor na direção do quarto de Victor. O rapaz tentou argumentar mais um
pouco, mas eles continuaram caminhando corredor a dentro, sem lhe dar mais
atenção. Ele continuou a segui-los, falando pelos cotovelos o tempo todo.
— É esse o quarto do
seu tio. Vocês já estiveram aqui antes? — perguntou, curioso.
— Na verdade já
estivemos, sim. Viemos visitá-lo uma vez. Ele nos mostrou algumas coisas
interessantes, como aquela sala toda revestida de veludo vermelho-sangue, lá
nos fundos. Por acaso você já a viu? — perguntou Ricardo, tentando arrancar
alguma informação extra do jovem.
— Oh, sim! Mas não é
permitida a entrada de estranhos na sala vermelha. Nem mesmo eu tenho
autorização para entrar lá. Admira-me muito que Victor a tenha mostrado a
vocês, mesmo sendo seus únicos parentes vivos — disse ele desconfiado.
— Na verdade ele não
nos mostrou nada. Eu é que precisei procurar o banheiro e sem querer acabei
abrindo a porta daquela sala. Perguntei a titio o que era e pedi para entrar
nela, mas ele apenas deixou que eu desse uma espiadela pela parte entreaberta
da porta. Não me disse para que ela serve. Você sabe? — despistou Jéssica.
— Não. Isso é
confidencial. Não sei pra que a sala vermelha serve. — A resposta não convenceu
e a expressão do rapaz mudou completamente. A voz doce transformou-se em voz
firme, cheia de convicção. Talvez estivesse se sentindo importante por não
revelar o segredo. Mas para eles, isso não tinha a menor importância. — Fiquem
o tempo que quiserem. Se precisarem de ajuda, estarei na recepção. — Ele
finalmente os deixou sozinhos. Jéssica foi imediatamente para o nicho
transformado em estante. Olhou as laterais das capas, havia muitas bíblias por
lá. Teriam que procurar depressa.
Raquel Pagno
www.raquelpagno.com
Oi Raquel
ResponderExcluirMuito fluida a sua escrita.
E muito empolgante também =)
Beijinhos
Rizia - Livroterapias
Oii, tudo bem?
ResponderExcluirEu meio que sumi uns dias e perdi um pouco da historia, então vou ter que voltar alguns capitulos rsrs
www.fonte-da-leitura.blogspot.com.br
Olá!
ResponderExcluirA história está cada vez melhor e instigante!
Ansiosa pela continuação!
Beijos
Li
literalizandosonhos.blogspot.com.br
Oi Raquel...
ResponderExcluirSua escrita continua incrivel e a historia nos chama e empolga, mas acho que perdi algum capitulo :/
Vou ter que voltar...
beijos
Oi Mih e Raquel!
ResponderExcluirMeninas não li esse cap pq ta no 24 agora, perdi muito da história, prefiro voltar tudo e ler, do que saber demais agora e perder a surpresa! Logo vou dar uma geral e ler desde o começo! Beijos
Oii!
ResponderExcluirParabéns pela escrita! Não tinha lido os outros capítulos então vou correndo lá conferir os anteriores!
Beijos, Amanda
www.vicio-de-leitura.com
Olá!!!!
ResponderExcluirEu não havia lido os outros capítulos então não posso dizer muita coisa, mas fica claro neste pedaço da obra que Raquel continua escrevendo de forma muito leve, ágil e fluída... tive oportunidade de ler Herdeiro da Névoa e gostei demais da forma com que a autora escreve. Certamente vou querer ler esta história por inteiro! :D
Beijos
www.escrevarte.com.br
Olá
ResponderExcluirEssa história está cada vez melhor. A narrativa continua muito interessante e quero muito saber o desfecho desta que pode ser uma conspiração religiosa. Perdi alguns capítulos, mas pretendo colocar tudo em dia!
Super bjos
http://www.i-likemovies.com/
Oie, tudo bom?
ResponderExcluirNão estou acompanhando as publicações, mas desejo sucesso nos escritos da Raquel porque já conheço a narrativa da autora.
Beijos,
http://livrosyviagens.blogspot.com.br/