No Meu Mundo...

20 março 2015

Boa leitura!

CAPÍTULO 24

Jéssica se encolheu e escondeu-se atrás de um dos muros ao seu redor. Podia ser que os homens entrassem por aquela rua e então sua tentativa estaria comprometida. Passaram-se alguns minutos. Miguel e o outro padre mantinham-se de pé à porta da casa paroquial, conversando e gesticulando. Ricardo ficou em dúvida se realmente sairiam de lá, mas logo, os dois caminharam em direção à igreja matriz. Miguel estava vestindo uma batina branca, com adornos dourados, ela reparou. O outro padre apenas trajava uma batina bege com o colarinho da camisa branca, vestida por baixo, aparecendo.
— Será que vai rezar alguma missa especial? — perguntou Ricardo. Na verdade isso não tinha a menor importância, desde que o homem saísse dali para que os dois pudessem penetrar como desconhecidos no quarto de Victor.
Esperaram mais algum tempo, até se certificarem de que os dois não voltariam tão cedo. Jéssica viu quando Miguel entrou pela porta da sacristia na grandiosa matriz. Estava claro que iria demorar um bocado.
— Vamos! — sussurrou para seu fiel companheiro. Depressa, antes que voltem! — e ele a seguiu. Ao se aproximarem, Jéssica percebeu imediatamente que a porta da frente estava fechada. Pensou se não estariam mais em horário de expediente, o que era bem pouco provável a julgar pela hora do dia. Depois veio-lhe a ideia de que Miguel poderia ter armado para que alguém entrasse no quarto de Victor para revistá-lo. Ela se recordou do que ele falara no dia anterior: “Vamos recolher o material depois das seis, quando a casa paroquial já tiver terminado as atividades nas quais tem estado envolvida, para não atrair atenções desnecessárias.” Tornou a olhar no relógio de pulso dourado e constatou que ainda eram quatro e meia. Teriam se antecipado? Seria muito má sorte para um único dia.
Ricardo aproximou-se da porta e tentou espionar por uma das pequenas frestas laterais. Não conseguiu ver nada além da imagem de São Jorge. Havia uma campainha ao lado, na parede, mas ele achou melhor não usá-la. Bateu à porta, causando um barulho oco na madeira velha. Nenhuma resposta. Bateu de novo e mais forte desta vez. Nada aconteceu. Jéssica irritou-se e enfiou o dedo na campainha com força. Ouviram passos. A porta abriu-se com um ruído alto, vindo das dobradiças enferrujadas. Como imaginou, um jovem seminarista atendeu-os.
— Pois não? Posso ajudá-los? — disse o rapaz com uma voz suave, como parecia ser hábito de muitos padres.
— Sim, na verdade pode, sim. — gaguejou ela, estendendo a mão para o rapaz — Meu nome é Jéssica Salles. Eu vim a pedido do padre Victor Bonaventura...
— Ah! Sim! O pobre padre Victor! Que coisa horrível lhe fizeram, não é mesmo? — interrompeu o rapaz.
— É, sim, foi por isso que viemos...
— Quer dizer que já sabem como aconteceu? Vocês não são da polícia, são? — interrompeu ele, mais uma vez.
— Não, não somos policiais... — Jéssica tentou argumentar e foi mais uma vez interrompida pelo jovem sedento de informações. Ela detestava quando era interrompida e o rapaz estava sendo profundamente irritante com ela. Será que ele não sabia ouvir antes de falar? Não era isso que os padres faziam, ouvir as preces e as confissões de seus fiéis? Era visível a falta de vocação do jovem seminarista.
— Ainda bem que não são. O padre Miguel detesta policiais. Diz que atrai maus agouros para a Igreja. Já sei! São parentes do padre Victor, não é? Eu sabia que não poderiam ter morrido todos! O padre Victor não merecia mesmo passar o resto dos seus dias sozinho! Ainda mais agora, depois desse terrível acontecimento! Que Deus tenha piedade do seu filho! — Jéssica estava pasma. Nunca vira alguém fazendo tantas suposições em tão pouco tempo. Achou melhor apenas concordar e ir direto ao assunto. A disposição do jovem era tanta, que se fossem dar atenção a tudo o que ele estava disposto a dizer, era possível que Miguel e o outro voltassem antes de eles conseguirem entrar no quarto de Victor.
— É, você é muito esperto! Viemos a pedido do médico que está tratando nosso querido... Tio. — mentiu Ricardo. — Precisamos de algumas roupas limpas e também uns livros para distraí-lo um pouco.
Jéssica achou a saída de Ricardo genial. Ela mesma não teria sido capaz de inventar desculpa melhor para sair dali com uma bíblia embaixo do braço. Desta vez não pudera trazer sua bolsa enorme consigo.
— Livros? Então ele já está acordado? O padre Miguel ficará contente em saber! Estava ansioso por lhe fazer uma visita. Creio que eu também vá até lá para vê-lo.
— Com certeza ele ficará contente em recebê-los, assim que receber alta hospitalar. Mas creio que antes disso não será possível. O médico quer que ele fique em repouso absoluto, não pode ao menos receber a nossa própria visita. É uma pena. Mas garanto que em breve ele voltará para cá e então vocês terão muito tempo para conversar.
— Está bem. Então não vou contar isso ao padre Miguel, por enquanto. Acho que ele não gostaria de desrespeitar o repouso do seu tio, não é mesmo?
— Sim, por favor, não conte nada a ele ainda. Será melhor assim — arrematou Ricardo, já entrando pelo corredor na direção do quarto de Victor. O rapaz tentou argumentar mais um pouco, mas eles continuaram caminhando corredor a dentro, sem lhe dar mais atenção. Ele continuou a segui-los, falando pelos cotovelos o tempo todo.
— É esse o quarto do seu tio. Vocês já estiveram aqui antes? — perguntou, curioso.
— Na verdade já estivemos, sim. Viemos visitá-lo uma vez. Ele nos mostrou algumas coisas interessantes, como aquela sala toda revestida de veludo vermelho-sangue, lá nos fundos. Por acaso você já a viu? — perguntou Ricardo, tentando arrancar alguma informação extra do jovem.
— Oh, sim! Mas não é permitida a entrada de estranhos na sala vermelha. Nem mesmo eu tenho autorização para entrar lá. Admira-me muito que Victor a tenha mostrado a vocês, mesmo sendo seus únicos parentes vivos — disse ele desconfiado.
— Na verdade ele não nos mostrou nada. Eu é que precisei procurar o banheiro e sem querer acabei abrindo a porta daquela sala. Perguntei a titio o que era e pedi para entrar nela, mas ele apenas deixou que eu desse uma espiadela pela parte entreaberta da porta. Não me disse para que ela serve. Você sabe? — despistou Jéssica.
— Não. Isso é confidencial. Não sei pra que a sala vermelha serve. — A resposta não convenceu e a expressão do rapaz mudou completamente. A voz doce transformou-se em voz firme, cheia de convicção. Talvez estivesse se sentindo importante por não revelar o segredo. Mas para eles, isso não tinha a menor importância. — Fiquem o tempo que quiserem. Se precisarem de ajuda, estarei na recepção. — Ele finalmente os deixou sozinhos. Jéssica foi imediatamente para o nicho transformado em estante. Olhou as laterais das capas, havia muitas bíblias por lá. Teriam que procurar depressa.


Raquel Pagno
 www.raquelpagno.com   



9 comentários:

  1. Oi Raquel

    Muito fluida a sua escrita.
    E muito empolgante também =)
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

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  2. Oii, tudo bem?
    Eu meio que sumi uns dias e perdi um pouco da historia, então vou ter que voltar alguns capitulos rsrs

    www.fonte-da-leitura.blogspot.com.br

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  3. Olá!
    A história está cada vez melhor e instigante!
    Ansiosa pela continuação!
    Beijos

    Li
    literalizandosonhos.blogspot.com.br

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  4. Oi Raquel...
    Sua escrita continua incrivel e a historia nos chama e empolga, mas acho que perdi algum capitulo :/
    Vou ter que voltar...

    beijos

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  5. Oi Mih e Raquel!
    Meninas não li esse cap pq ta no 24 agora, perdi muito da história, prefiro voltar tudo e ler, do que saber demais agora e perder a surpresa! Logo vou dar uma geral e ler desde o começo! Beijos

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  6. Oii!

    Parabéns pela escrita! Não tinha lido os outros capítulos então vou correndo lá conferir os anteriores!

    Beijos, Amanda
    www.vicio-de-leitura.com

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  7. Olá!!!!

    Eu não havia lido os outros capítulos então não posso dizer muita coisa, mas fica claro neste pedaço da obra que Raquel continua escrevendo de forma muito leve, ágil e fluída... tive oportunidade de ler Herdeiro da Névoa e gostei demais da forma com que a autora escreve. Certamente vou querer ler esta história por inteiro! :D

    Beijos

    www.escrevarte.com.br

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  8. Olá

    Essa história está cada vez melhor. A narrativa continua muito interessante e quero muito saber o desfecho desta que pode ser uma conspiração religiosa. Perdi alguns capítulos, mas pretendo colocar tudo em dia!

    Super bjos
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  9. Oie, tudo bom?
    Não estou acompanhando as publicações, mas desejo sucesso nos escritos da Raquel porque já conheço a narrativa da autora.
    Beijos,
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

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