No Meu Mundo...

02 outubro 2015


Capítulo 8


Voltei para Jerusalém, na tentativa de ficar o mais próximo possível de Jesus. Se algo extraordinário acontecesse, eu estaria lá pra ver. Mantive-me afastado, também não seria conveniente andar desprevenido no meio dos humanos. Havia caçadores, era quase impossível que nenhum deles estivesse infiltrado na multidão a procura de bestas. Eles sempre estavam por toda a parte e eram verdadeiros mestres na arte da camuflagem. Eu sabia, também usava algumas das suas técnicas quando caçava.
Efrat não retornou até terça-feira de manhã. Imaginei que houvesse se afastado do acampamento para se alimentar. O pensamento aguçou meu apetite e então me dei conta de que não bebia há vários dias. Não queria deixar a cidade, mas matar humanos em um lugar crivado de humanos era no mínimo imprudente. As pastagens eram uma alternativa, apesar do sangue das ovelhas ter mau gosto e ser quase intragável.
Afastei-me furtivamente. Não muito longe do acampamento avistei o primeiro rebanho. Aproximei-me do jovem pastor, que não parecia ter mais do que 13 ou 14 anos, e ofereci algumas moedas em troca de um ou dois animais. Mal conseguia me concentrar nas ovelhas quando o sangue do pastorzinho era tão tentador. Olhei em volta, avistei algumas poucas pessoas ao longe, calculei se àquela distância elas poderiam discernir o que se passava.
Estendi a mão e quando senti a pele quente do pastor tocando o bloco duro e frio que era a minha, não pude resistir e agarrei-o, envolvi com meu manto negro e arrastei-o por alguns metros até uma baixada encoberta por um leve aclive. Impossível descrever a sensação de prazer que invadiu meu corpo em contato com o sangue quente. O sangue humano fazia-me sentir que eu ainda tinha alguma humanidade em mim, que ainda tinha algo de bom escondido no mais profundo do meu ser. A sensação só perdurava até o sangue esfriar, fundindo-se com meu corpo morto.
Por alguns momentos me esqueci do Messias, do objetivo que me levara até aquele lugar, de Efrat... Por alguns segundos apenas o prazer do sangue descendo quente pela minha garganta permaneceu. Terminei o meu banquete sem me importar com o mundo em volta e depois retornei. Efrat me esperava.

— Consegui. Descobri onde o Messias estará amanhã ao por do sol.

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