Capítulo 8
Voltei
para Jerusalém, na tentativa de ficar o mais próximo possível de Jesus. Se algo
extraordinário acontecesse, eu estaria lá pra ver. Mantive-me afastado, também
não seria conveniente andar desprevenido no meio dos humanos. Havia caçadores,
era quase impossível que nenhum deles estivesse infiltrado na multidão a
procura de bestas. Eles sempre estavam por toda a parte e eram verdadeiros
mestres na arte da camuflagem. Eu sabia, também usava algumas das suas técnicas
quando caçava.
Efrat
não retornou até terça-feira de manhã. Imaginei que houvesse se afastado do
acampamento para se alimentar. O pensamento aguçou meu apetite e então me dei
conta de que não bebia há vários dias. Não queria deixar a cidade, mas matar
humanos em um lugar crivado de humanos era no mínimo imprudente. As pastagens
eram uma alternativa, apesar do sangue das ovelhas ter mau gosto e ser quase
intragável.
Afastei-me
furtivamente. Não muito longe do acampamento avistei o primeiro rebanho.
Aproximei-me do jovem pastor, que não parecia ter mais do que 13 ou 14 anos, e
ofereci algumas moedas em troca de um ou dois animais. Mal conseguia me
concentrar nas ovelhas quando o sangue do pastorzinho era tão tentador. Olhei
em volta, avistei algumas poucas pessoas ao longe, calculei se àquela distância
elas poderiam discernir o que se passava.
Estendi
a mão e quando senti a pele quente do pastor tocando o bloco duro e frio que
era a minha, não pude resistir e agarrei-o, envolvi com meu manto negro e
arrastei-o por alguns metros até uma baixada encoberta por um leve aclive.
Impossível descrever a sensação de prazer que invadiu meu corpo em contato com
o sangue quente. O sangue humano fazia-me sentir que eu ainda tinha alguma
humanidade em mim, que ainda tinha algo de bom escondido no mais profundo do
meu ser. A sensação só perdurava até o sangue esfriar, fundindo-se com meu
corpo morto.
Por
alguns momentos me esqueci do Messias, do objetivo que me levara até aquele
lugar, de Efrat... Por alguns segundos apenas o prazer do sangue descendo
quente pela minha garganta permaneceu. Terminei o meu banquete sem me importar
com o mundo em volta e depois retornei. Efrat me esperava.
—
Consegui. Descobri onde o Messias estará amanhã ao por do sol.
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