Resenha # Brilho

Um soco no estômago. É isso que eu senti quando terminei a leitura de BRILHO, de Amy Kathleen Ryan. Um livro de ficção científica que faz você devorar a obra inteira de uma vez só.

Em um futuro distante, ou não, afinal isso não é classificado no livro, o nosso Planeta Terra está perdido e, para que a Humanidade pudesse sobreviver, duas naves foram fabricadas e a missão delas era bem simples: procurar um novo mundo e realizar uma nova colonização e assim a espécie humana continuaria se perpetuando.

A primeira nave, New Horizon partiu primeiro e ninguém sabe a sua localização. A segunda nave, Empyrean partiu logo atrás, mas como tudo no espaço é grande, a separação entre uma nave e outra se dava em anos.

A primeira missão das naves, claro, sem ser a de encontrar e povoar um outro planeta Terra, era os astronautas se perpetuarem nas naves, até porque ninguém sabia ao certo se iam encontrar um novo mundo e isso poderia durar eras. Nesse caso eles tinham que estar casados e ter filhos, criar novas gerações que, essas sim, teriam a honra de chegar ao novo planeta.

Kyeran Alden é jovem, aproximadamente 16 anos e tem tudo para se tornar o próximo capitão da Empyrean. É esperto, sabe de suas obrigações e espera se casar com Waverly, de 15 anos, no entanto, ela espera mais que ser casada por obrigação de quem está na nave.

Enquanto Waverly decide ou não se casa com Kyeran, algo está para acontecer. A New Horizon diminuiu a velocidade e, pior, está retornando para encontrar-se com a Empyrean. Algo deu errado e os tripulantes daquela nave não estavam conseguindo conceber filhos.

O que acontece quando as duas naves se encontram é catastrófico. Há uma disputa e a New Horizon leva a pior, sendo que as jovens são levadas para a outra nave, enquanto a Empyrean é abandonada à própria sorte.

As jovens se sentem sozinhas e prisioneiras na nave capitaneada pela Pastora Anne Mather. Waverly também foi “sequestrada” e a única coisa que a mantém com esperanças é o que sente por Kyeran e a esperança de que ele ainda esteja vivo.

Ao mesmo tempo, enquanto as jovens vão descobrindo os propósitos para que foram levadas à força, os demais que ficaram, poucos adultos e os garotos, tentam sobreviver não só a uma nave danificada, tendo que consertar sem ajuda de algum adulto especializado, mas também a uma espécie de motim a bordo.

Amy Kathleen Ryan concebeu um livro que fica difícil parar quando se começa a ler. Nada é indiferente, há grandes reviravoltas e você nunca sabe exatamente o que vai acontecer. Disputas são apresentadas, de forma violenta. A religião também é apresentada e também e faz você questionar até onde vai a sua fé, até onde você pode ser manipulado pela fé para fazer o que acha certo, mesmo sendo ou estando errado.

E quando você é jovem e tem que tomar decisões que afetam a todos? Incluindo aí os adultos? Na falta de adultos, são os jovens que tomas as rédeas da situação, e isso em meio a uma crise.

Outra situação é a questão das mulheres, que pode ser vista de uma forma que elas só sirvam para casar e ter filhos, a despeito de suas posições sociais e profissionais.

Não tem como não pensar na Arca de Noé, a diferença é que são duas grandes arcas e apenas com humanos de ambos os sexos. Biblicamente falando é o crescei e multiplicai, no novo mundo. Uma diáspora espacial.

Os personagens são excelentes, todos bem delineados e com o seu papel dentro da narrativa do livro. É claro que sempre há alguns favoritos e isso é normal, mas e quando na leitura você não consegue definir bem para quem torcer, ou para quem vai despejar sua antipatia é que percebe que o livro foi muito bem escrito. 

O tipo de narração muitas vezes deixa o leitor com a pulga atrás da orelha, e no caso de Brilho, em terceira pessoa, não tem a “versão” de cada personagem, sabemos apenas aquilo que o autor quer e, mérito de Amy, isso foi a sua grande “sacada”, afinal, há momentos em que o leitor torce para um personagem e momentos depois está querendo esganá-lo.

Esse é o primeiro livro e muita coisa ainda vai acontecer. É aguardar o próximo ou próximos livros e pagar para ver.

Recomendo, para quem gosta de ficção no melhor estilo.

Antonio Henrique Fernandes

Resenhista do blog As Leituras da Mila