No Meu Mundo...

20 novembro 2015



Capítulo 15


A noite de quarta-feira caiu sombria. Não havia lua no céu. Não havia estrelas. Algumas pessoas muniam-se de tochas que conferiam um tom espectral a multidão. Apesar da minha visão naturalmente aguçada, aquela noite transformara-se em um jogo de luz e sombras, dificultando minha caçada. O povo se aquietara, como se aguardasse uma tragédia. Já não se ouvia os clamores fervorosos, sequer um cântico de louvor. Só murmúrios eram audíveis. Vez ou outra um choro de criança era ouvido, tornando o clima ainda mais sinistro.
Passei a noite em vigília, sem encontrar o rastro de Adramelech. No meio da madrugada, Efrat juntou-se a mim e questionou o meu progresso. Eu não tinha nada de novo para contar. Dei mais uma longa olhada ao redor e percebi o grande número de tendas improvisadas ao redor do agrupamento. Como é que eu não tinha percebido que ótimo esconderijo era aquele?
— As tendas! — Soltei.
— O quê?
— Adramelech está escondido em uma daquelas tendas. — do nada, eu tinha plena certeza do que dizia. E me senti um idiota por ter concluído isso antes. Eu revistara cada centímetro daquele chão, praticamente decorara cada um daqueles rostos e não o encontrei. Só havia uma explicação, e era muito simples, eu não entendia por que não deduzira logo.
— Você tem certeza, Asher? — Efrat olhava para as tendas. Imaginei que estivesse fazendo cálculos mentais sobre a quantidade delas e a quantidade de pessoas dentro delas.
— Eu tenho certeza. Mas não consigo monitorar a todas durante todo o tempo. São muitas. Não há movimentação anormal em nenhuma delas. O desgraçado está muito bem camuflado. E sabe bem como me despistar.
— Você é a cria de Adramelech, ele...
— Nunca mais diga uma coisa dessas! — interrompi Efrat, virando-me rápido como um felino e agarrando seu pescoço, mostrando minhas presas afiadas. — Nunca mais!
— Ou, ou, ou! Calma aí! Não falei nenhuma mentira — o soltei e afastei-me. Sabia que tinha razão, de certa forma. Passei a mão pelo rosto, na tentativa de desanuviar os pensamentos e espantar a raiva das verdades contida nas palavras de Efrat.
— Conclua seu pensamento — pedi, os punhos cerrados, pronto para ouvir o que não queria.

— Adramelech te transformou, logo, nessa nova condição de vida você é sua cria, e ele sabe o que se passa na sua cabeça. É previsível como para um pai, as molecagens de um filho.

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