Capítulo 15
A
noite de quarta-feira caiu sombria. Não havia lua no céu. Não havia estrelas.
Algumas pessoas muniam-se de tochas que conferiam um tom espectral a multidão.
Apesar da minha visão naturalmente aguçada, aquela noite transformara-se em um
jogo de luz e sombras, dificultando minha caçada. O povo se aquietara, como se
aguardasse uma tragédia. Já não se ouvia os clamores fervorosos, sequer um
cântico de louvor. Só murmúrios eram audíveis. Vez ou outra um choro de criança
era ouvido, tornando o clima ainda mais sinistro.
Passei
a noite em vigília, sem encontrar o rastro de Adramelech. No meio da madrugada,
Efrat juntou-se a mim e questionou o meu progresso. Eu não tinha nada de novo
para contar. Dei mais uma longa olhada ao redor e percebi o grande número de
tendas improvisadas ao redor do agrupamento. Como é que eu não tinha percebido
que ótimo esconderijo era aquele?
—
As tendas! — Soltei.
—
O quê?
—
Adramelech está escondido em uma daquelas tendas. — do nada, eu tinha plena
certeza do que dizia. E me senti um idiota por ter concluído isso antes. Eu
revistara cada centímetro daquele chão, praticamente decorara cada um daqueles
rostos e não o encontrei. Só havia uma explicação, e era muito simples, eu não
entendia por que não deduzira logo.
—
Você tem certeza, Asher? — Efrat olhava para as tendas. Imaginei que estivesse
fazendo cálculos mentais sobre a quantidade delas e a quantidade de pessoas
dentro delas.
—
Eu tenho certeza. Mas não consigo monitorar a todas durante todo o tempo. São
muitas. Não há movimentação anormal em nenhuma delas. O desgraçado está muito
bem camuflado. E sabe bem como me despistar.
—
Você é a cria de Adramelech, ele...
—
Nunca mais diga uma coisa dessas! — interrompi Efrat, virando-me rápido como um
felino e agarrando seu pescoço, mostrando minhas presas afiadas. — Nunca mais!
—
Ou, ou, ou! Calma aí! Não falei nenhuma mentira — o soltei e afastei-me. Sabia
que tinha razão, de certa forma. Passei a mão pelo rosto, na tentativa de
desanuviar os pensamentos e espantar a raiva das verdades contida nas palavras
de Efrat.
—
Conclua seu pensamento — pedi, os punhos cerrados, pronto para ouvir o que não
queria.
—
Adramelech te transformou, logo, nessa nova condição
de vida você é sua cria, e ele sabe o que se passa na sua cabeça. É
previsível como para um pai, as molecagens de um filho.
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