Capítulo 18
Descobri
o local em que o Messias se reuniria com seus amigos. Esquivei-me, como uma
sombra ao entardecer e o observei. Era incrível como a simples visão daquele
homem me apaziguava. Teria apaziguado a minha alma e, embora eu julgasse já ter
perdido a minha há muito tempo, ele me fazia sentir que ainda restara alguma
coisa, alguma parcela de alma no meu corpo semimorto.
Permaneci
a espreita, esperando ouvir um discurso inflamado, um pedido de ajuda, a
incitação de uma guerra, talvez. Esperei que ele pedisse ajuda, que fizesse os
apóstolos incitarem o povo em sua defesa, que dissesse que, se todos se
unissem, evitariam a morte outrora profetizada.
Mas
em vez disso, ele pôs-se de joelhos e lavou os pés daqueles homens. A cabeça
baixa, um suave sorriso nos lábios.
Aquilo
me destruiu, não sei explicar o porquê. Como era possível tamanha prova de
humildade, diante de uma morte que se anunciava? Eu quis salvá-lo, naquela
hora. Mas era tarde demais quando vi o traidor se retirar e em momento algum
suspeitei de suas intenções. Eu o teria impedido.
Era
quase meia-noite quando a ceia findou. Todos aqueles homens partiram para os
jardins de Getsêmani e eu vislumbrei ali uma nova oportunidade de contato. Quem
sabe com a interferência de seus apóstolos, eu conseguisse o persuadir a me
ajudar? Talvez ele me liberasse do altíssimo preço que eu jamais poderia pagar.
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