Capítulo 20
Assim
que o sol raiou, eu parti.
Saí
de Jerusalém pelo percurso que me parecia mais fácil, Samaria. No caminho ainda
encontrava as caravanas que vinham de muito longe para juntar-se ao homem de
Nazaré. Em cada um daqueles rostos eu via algo incomum, os olhos transbordados
de esperança. Será que o Messias também lhes cobraria uma paga que não poderiam
honrar? Não, eles todos estavam dispostos a pagar o preço.
Enquanto
eu os encarava, palavras ecoavam nos meus pensamentos. As dúvidas me inundavam.
E se eu simplesmente fizesse o que ele me pediu? E se eu apenas tentasse? Eu
sempre pensara que aquela não era uma possibilidade, mas e se? Eu precisava
pensar, mas estava difícil me isolar e a proximidade das pessoas me distraia.
Eu não conseguia me concentrar e precisava muito de meditação.
Por
fim, segui rumo ao litoral, o mar certamente me traria as respostas. Caminhei
pela costa, sentindo as ondas geladas do Mar Mediterrâneo banhado minhas
pernas, as bordas de minhas vestes. De vez em quando, parava, me abaixava, molhando
o rosto na água salgada como em um ritual de purificação e perdia horas mirando
o horizonte, suplicando para que o sol me trouxesse algum consolo.
Depois
de todo um dia junto ao mar, enquanto rumava para Alexandria, ouvi rumores de
que Jesus havia sido assassinado. A notícia me esmagou como uma pedra de toneladas.
Então ele estava certo? Como poderia ter ciência da própria morte, quando havia
tantos dispostos a interferirem a seu favor? Senti uma dor absurda me
consumindo. Voltei às pressas para Jerusalém.
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