A Besta - Conto de Terror - 3º Capítulo
3
Emília foi acordada sete horas da manhã pelo despertador do
celular. Estava muito cansado do dia anterior ainda, mas precisava trabalhar.
Ela e César tinham um caso muito esquisito e iam ouvir algumas testemunhas para
tentar conseguir ter um retrato mais fiel do caso. Apesar que desconfiava que
não ia dar em nada. Provavelmente só ouviram gritos. No entanto, vai que alguém
viu o assassino ou assassina sair ou entrar no recinto, pensou Emília.
César mandou mensagem dizendo que ia atrasar um pouco, mas
chegaria a tempo de acompanhar as declarações das testemunhas. Disse que não
tinha dormido bem e estava com o corpo como se tivesse sido atropelado por um
caminhão.
“Parece que a noite não foi muito boa para nós dois”, pensou
Emília. Apesar de ter acordado mais ou menos cedo, a noite foi de sonhos muito
perturbadores e a única coisa que consegue lembrar é que no sonho tinha muito
sangue. Tanto que quase podia sentir o cheiro. Fez uma careta de nojo e foi para
o banheiro tomar um banho. 20 minutos depois estava pronta, faltando apenas
colocar o coldre e a sua pistola .40. Tomou um café rápido e pegou o carro para
ir até à Delegacia.
Chegando lá teve uma surpresa. As testemunhas ainda não
tinham comparecido o que seria bom para o César, que ainda não tinha chegado,
no entanto, ficou sabendo que mais um crime havia acontecido e que tinha sido
tão bárbaro quanto o primeiro. Imediatamente ela pegou o endereço e quando ia
saindo, mandou mensagem para seu parceiro, indicando o que tinha acontecido e
onde estaria. Esperaria por ele no local do novo crime.
Não teve muito trabalho para encontrar o prédio de
apartamentos em uma zona não muito segura da cidade. O prédio em si já teve
melhores dias, ela pensou, olhando para o edifício antes de entrar. Era
realmente antigo, pois não tinha elevadores, apesar de ter cinco andares. Para
seu desgosto, o apartamento ficava no último andar. “Sempre tem que ser no
último”, praguejou para si mesma.
Na entrada do apartamento, o costumeiro enxame de curiosos. Emília
tinha certeza que havia uma corrente de informação para esse tipo de situação
que sempre funcionava que era uma maravilha. Colocou o distintivo no cinto e
foi abrindo caminho até o apartamento. Um policial da sua delegacia já estava
ali e não deixava ninguém entrar e tentava, sem sucesso, fazer o povo deixar o
local.
Foi quando um assobio bem forte foi ouvido e todos se
voltaram em direção daquele som. Era Emília.
— Muito bem, povo, se não tiver nenhuma testemunha ocular do
crime aqui, podem ir andando. Sem curiosos. Só admito família da vítima. Andem!
Andem!
E assim aquelas pessoas foram saindo, devagar, ainda tentando
ficar, mas Emília mantinha um olhar bem duro na direção deles, o que terminou
por convencer os curiosos a saírem dali.
Dez minutos depois, César chegou ao prédio e quando entrou
foi com Emília, saber o que tinha acontecido.
— Bom, parece que temos um maníaco na cidade. E bem feroz.
Pelo que o médico legista que saiu agorinha daqui disse os ferimentos são condizentes
com marcas de garras. Ou seja, o que causou a morte, fora um ataque com garras,
principalmente o que atingiu o pescoço da vítima. Jorrou sangue até morrer.
Igual à outra vítima, esta também foi estripada e os seus órgãos internos
sumiram. O médico não conseguiu saber se ela foi estripada ainda viva.
Provavelmente não, mas só um exame mais criterioso no IML é que vai determinar
a verdadeira causa da morte.
— Uau! Temos um lobisomem atacando pessoas nesta cidade. —
Riu César.
— Deixa de brincadeira. Isso é sério. Alguém com uma unha bem
afiada anda fazendo estrago. Já temos duas vítimas com o mesmo modus operandi.
— E o rasgo na barriga, foi feito por alguma faca, ou outro
objeto afiado? — Perguntou o jovem investigador.
— Hum. Aparentemente, não. Fiz a mesma pergunta ao legista e
ele respondeu que ela foi aberta por algo afiado sim, mas não era nenhuma
lâmina. Muito mais provável que tenha sido garras.
— Viu? Estou te dizendo, temos uma fera atacando pessoas. Já
imaginou, uma pessoa se transforma em fera e mata cidadãos na cidade?
— Vá se ferrar, César, se a gente divulga uma coisa dessas é
capaz de se instalar um pânico na cidade.
— Duvido, ninguém acreditaria e acharia que notícia de jornal
sensacionalista. O que vamos fazer?
— Voltar para a delegacia e esperar que as perícias em ambos
os casos nos digam alguma coisa de concreto. E só. Muito provavelmente não
teremos testemunhas do ocorrido. A vítima era uma garçonete e tinha saído do
trabalho bem tarde. Segundo o namorado dela, que é aquele rapaz inconsolável
encostado na parede lá nos fundos, ele sempre pegava a vítima depois do
trabalho, mas justamente ontem ele estava com sua mãe doente e não pode sair.
— Que tragédia.
Depois que saíram do apartamento, voltaram para a delegacia,
onde acompanharam as declarações de todas as testemunhas, dos dois casos e o
delegado titular foi bem enfático com a dupla, nada seria passado à imprensa
antes de terem qualquer dado mais concreto sobre o que tinha acontecido. Tanto
Emília quanto César prometeram que ficariam mudos sobre a questão. Também foram
cobrados pelo Delegado Arruda que tinham que tratar do assunto o mais rápido
possível, que logo estariam fungando no cangote dele querendo uma solução.
Principalmente porque até agora a imprensa não tinha começado com as suas
especulações.
Era o que podiam fazer, disseram em uníssono ao delegado.
continua...
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