No Meu Mundo...

28 novembro 2014


Boa Leitura! Comentem...

CAPÍTULO 8

Ricardo estava nervoso, talvez mais nervoso do que ela própria. Nunca fora muito amigo de Victor, só estivera com ele quando se encontravam no apartamento de Jéssica, nas raras vezes em que ele era obrigado a ficar e compartilhar a companhia da moça.  Mesmo assim ficara chocado com a notícia. Quem teria sido capaz de agredir uma pessoa idosa daquela maneira tão brutal? Ainda mais usando uma batina... O mundo estava perdido mesmo.
Por sorte, o cartão de visita de Jéssica ainda estava no bolso da batina e quando a ambulância chegou, a primeira coisa que os bombeiros fizeram foi avisá-la, pensando que fosse alguma parenta. Ele a considerava mesmo como uma filha, Ricardo sabia, mas mesmo assim, não gostava de dividir o carinho e a atenção de Jéssica com Victor.
Ele sentou-se na sala de espera, enquanto ela foi convidada a entrar em uma espécie de consultório, onde o médico lhe contava sobre a gravidade dos ferimentos. Ele podia ouvi-la chorando, na cadeira dura em frente ao homem de branco. Parecia ser pior do que aparentava e mesmo que não fosse, na idade de Victor qualquer fratura poderia ser letal. A polícia foi avisada, mas como sempre, chegara tarde e não encontraram sequer vestígios dos agressores. Várias hipóteses foram levantadas, como um grupo de neonazistas, punks, ou até mesmo crentes de outras igrejas, conhecidos pelas suas condutas radicais.
Um policial ainda permanecia no hospital, esperando que alguém pudesse ter visto a cena do crime e aparecesse para denunciar os agressores, ou quem sabe a pessoa que fez isso fosse louca o suficiente para fazer uma visita a Victor, por simples diversão, peso na consciência ou medo do castigo divino.
O homem sentou-se ao lado de Ricardo na sala de espera, que ficava de frente para a sala de cirurgia, na qual Victor passaria as próximas doze horas, no mínimo. Ele vestia calça social e um sobretudo marrom, apesar do calor do mês de março, que o fazia parecer um Sherlock Holmes de meia tigela. No lugar do cachimbo, jazia em sua boca um cigarro apagado, que parecia mesmo, nem ter sido aceso.
Ricardo não pôde parar de olhar para a figura sentada a seu lado. Segurava a vontade de rir, por dois motivos: primeiro porque ficou com medo de ser preso por desacato à autoridade, e depois porque não queria que Jéssica o visse rindo, enquanto Victor permanecia em seu leito, correndo risco de morte. A impressão que causaria na garota, se isso acontecesse, seria das piores possíveis. De qualquer forma, ele conseguiria se controlar.
Olhou mais uma vez para a porta entreaberta da saleta, onde ela ainda chorava. Viu quando o médico se retirou e uma enfermeira lhe trouxe um copo de água com açúcar. Ricardo aproximou-se da porta e perguntou para a velha enfermeira se podia entrar e fazer companhia para a amiga, mas a mulher negou. Jéssica, que já estava de saída, foi abordada pelo mini “Sherlock”, que se apresentou e pediu para fazer algumas perguntas. O homem bambeava o seu cigarro apagado para lá e para cá pelos lábios enquanto falava.
— Você conhecia bem o homem?
— Sim, conhecia-o muito bem. — Ela ainda tentava conter os soluços enquanto respondia.
— São parentes? Como, quando e onde se conheceram?
— Não, não somos parentes. Eu e Victor somos grandes amigos. Conhecemo-nos há alguns anos, quando eu ainda estagiava no setor de pesquisas em astronomia da USP. Na verdade ele foi até lá procurar meu professor, na época, coordenador de importantes pesquisas na área. Cornélio Furtado é o seu nome. Infelizmente, Cornélio não foi gentil com Victor, o que me fez sentir pena do pobre padre. Depois de uma conversa no gabinete do professor, Cornélio expulsou Victor, chamando-o de velho caduco e tornando a afirmar que ele estava louco.
— Sobre o que eles conversaram naquele dia?
— Eu não sei exatamente. Victor me contou, um tempo depois, que apenas pedira informações para Cornélio sobre a descoberta do décimo planeta do sistema solar. Apesar de ter sido formado em teologia e filosofia, Victor é um grande admirador da astronomia, astrologia e até mesmo astrofísica.
— O que mais aconteceu naquele dia que a levou a tornar-se tão íntima do padre Victor?
— Bem, quando Cornélio escorraçou Victor do seu gabinete particular, depois de mais de duas horas de conversa com as portas fechadas, eu notei pela expressão de Cornélio que a conversa não tinha sido nada esclarecedora para o padre pesquisador. Inventei uma desculpa qualquer e o segui até o lado de fora da universidade. Eu sabia que poderia ajudá-lo, de uma forma ou de outra. Eu acompanhara todas as pesquisas desde que o planeta era apenas uma simples hipótese, dessa forma, estava a par de todas as recentes descobertas. Tamanho foi o susto de Victor quando me viu. Ele não me reconheceu de imediato, não tinha sequer percebido que eu estava no laboratório quando chegou.
— Vocês mantêm um relacionamento mais íntimo?
— O quê? Você está me perguntando se eu tenho um caso com um padre? É claro que não!
— Desculpe, senhorita, mas todas as informações são de extrema importância para o esclarecimento do crime. É preciso que eu saiba o máximo possível sobre o padre, com quem ele se relaciona ou se frequenta algum local especifico diariamente...
— Ele frequenta sua igreja diariamente. — respondeu ela, irritada — É na casa paroquial que medita e que vive enquanto não encontra um bom samaritano que lhe ofereça um teto decente. É inacreditável que ninguém nesta cidade tenha piedade de um pobre homem na idade dele. Poderia ser o seu pai, sabia?
— E o seu pai também. Por que você mesma não oferece esse teto acolhedor que supõe que ele mereça? Seu apartamento é bem grande para comportar os dois, não é?
— Mesmo que eu quisesse, não poderia levá-lo para minha casa. Ele jamais concordaria em viver debaixo do mesmo teto com uma mulher sozinha, como eu. Não por medo, mas para me preservar de insinuações maliciosas, como a que o senhor acabou de fazer. Aliás, como você sabe onde eu moro, se ainda nem prestei depoimento na delegacia?
— Minha cara, não sei se você sabe, mas sua ficha já foi levantada. E a do seu amiguinho aqui também. — disse ele apontando para Ricardo — Sabemos onde e com que você trabalha, sabemos quais os lugares que frequenta e quantas vezes por semana sai com seu amigo aí, para encher a cara.
— O quê? Já estavam me seguindo ontem à noite? Mas como... Por quê?
— Essas informações são confidenciais. E agora, se me dá licença... — ele fez um cumprimento tirando o chapéu de Sherlock da cabeça, como se fosse uma reverência. Ricardo, que assistiu à conversa, agora se aproximara mais de Jéssica. Segurou-lhe o braço.

— Vamos para casa. Você precisa descansar um pouco. Por acaso já almoçou? — Ela respondeu que não e os dois saíram juntos pelo elevador dos fundos, que dava direto no estacionamento. Quando arrancou o carro, Ricardo viu a sombra do policial atrás deles. O homem era realmente muito estranho. 

Raquel Pagno
 www.raquelpagno.com    


13 comentários:

  1. kkkkkk esse mini Sherlock é problema....
    To adorando Raquel!

    bjo bjo^^

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  2. Problema, e dos grandes Ana Paula!! kkkkk
    Obrigada por acompanhar! Beijos! ;)

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  3. Oiee ^^
    Gostei bastante ^^ dei uma passadinha nos capítulos anteriores para não me perder...haha' esperando ansiosamente o próximo capitulo ♥
    MilkMilks
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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  4. Olá!
    Me interessei bastante, mas vou dar uma olhada nos capítulos anteriores para entender melhor a história.
    Mas gostei muito, super bem escrito!
    Beijos

    Li
    literalizandosonhos.blogspot.com.br

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    1. Obrigada Aline!
      Espero te ver por aqui nas próximas sextas. ;)
      Beijos!

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  5. Olá...

    Hum capitulo bem interessante e já gostei do Sherlock, fico triste de não poder acompanhar a história... porque mal tenho tempo... ando numa correria daquelas... mas eu gostei desse capitulo e da moça brava rsrsrs... Xero!

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    1. Oi Diana!
      Poxa, uma pena que não possa acompanhar. Quem sabe depois que o livro for publicado integralmente né?
      Obrigada por ler o capítulo, fico feliz que tenha gostado. ;)
      Beijocas!

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  6. Oi xará, tudo bem?

    Cheguei na metade do seu texto, mas gostei bastante do que vi. Você sabe que adoro a sua escrita né? Simpatizei pelo Ricardo, mas preciso ler mais capitulos para saber mais dele

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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    1. Oi xará!
      Corre lá pra ler os capítulos anteriores! rsrsrs
      Que bom que está curtindo! Não perca os próximos!
      Beijão!

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  7. Menina peguei essa capítulo preciso correr e ler o que perdi , estou adorando . Não posso perder mais nenhum. Vou me atualizar. Parabéns . beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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    1. Oi Joyce!
      Que bom ter vc por aqui. Não deixe de ler os capítulos anteriores e não perca os próximos. Vem muita aventura por aí. ;)
      Beijocas!

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  8. Tá tão bom acompanhar estes capítulos, que não quero mais sair daqui hehehe

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