No Meu Mundo...

Boa leitura!

CAPÍTULO 22

— Dois mil anos de história, de sobrevivência, não podem acabar assim, por causa de uma loucura! — dizia o bispo do outro lado da linha.

— Mas e quanto às provas? Eu já lhe disse que temos provas concretas da sua existência real, o senhor não compreende? Precisa vir até aqui, nós lhe imploramos! Não temos muito tempo! — argumentava o ardiloso Miguel.

— O que quer dizer com isso? Que mais uma vez uma sandice coletiva está a nos ameaçar? Até parece que não estudou direito em seus tempos de seminário, padre! A Igreja é muito mais forte do que vocês estão pensando e não será derrubada por um pequeno grupo de cientistas! Não posso incomodar Sua Santidade com esses assuntos menores!

— Assuntos menores? Não estamos pedindo muito, apenas que nos deixe mostrar-lhe! Se não quer vir até nós, deixe-nos levar até aí. Depois de ver com seus próprios olhos terá condições de julgar melhor e decidir o que fazer.

— Eu vou! Vocês me convenceram! Mas terão que me garantir que respeitarão a decisão da Igreja, seja ela qual for!

— Sim, nós garantimos! — respondeu Miguel lançando um olhar para seu colega que ouvira toda a conversa pelo viva voz do aparelho.

Em seguida o bispo desligou, ainda meio incrédulo do que acabara de ouvir. Era um total disparate acreditar em profecias antigas, ainda mais as que não favoreciam os propósitos da Igreja. Ele chegara a executar algumas pesquisas e encomendara outras aos seus subordinados. Concluiu que essa história se espalhara depressa, como sempre acontecia com mitos desse tipo. Ele só esperava que não se referisse a uma data muito longínqua, assim a alucinação acabaria depressa. Pegou o telefone novamente e, desta vez, foi outro número que ele discou. Estava na hora de o Vaticano ser posto a par da situação.

Ainda na casa paroquial, Miguel observava atentamente os arquivos do computador, furtados da casa da jovem amiga de Victor. Seus homens haviam sido muito discretos ao retirarem e substituírem os discos rígidos por outros vazios. Ela com certeza não desconfiaria de nada tão cedo e quando desse conta do acontecido, já seria impossível reaver sua relíquia. Agora tinha a prova de que precisava para convencer ao bispo e ao restante do clero. Imprimiu os dados, os diagramas e juntou aos textos retirados das gavetas de Victor. Estava tudo muito bem explicado, desta vez. Era incontestável. Fez a encadernação.

Raquel Pagno

 www.raquelpagno.com