No Meu Mundo...

01 maio 2015




Boa leitura!

CAPÍTULO 30

Os casos associados ao de Victor até agora eram os mais bizarros. O primeiro padre católico agredido fora encontrado apenas dois meses antes. Uma pessoa que passava pelo local chamou uma ambulância e a polícia, logicamente. Ao chegarem, depararam-se com uma das cenas mais chocantes vistas até então. Ele tinha sido surrado até a morte. Encontrava-se seminu no meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Vários ossos haviam sido quebrados e as orelhas arrancadas.  Nenhuma pista foi deixada para trás. Sem testemunhas e sem impressões digitais. Não havia sinais de luta e nem vestígios de pele embaixo das unhas do religioso. Nada que possibilitasse a identificação do agressor. O caso acabou sendo atribuído a algum “antirreligião” ou praticante de algum culto satânico.
Passou-se apenas mais uma semana e um novo chamado de um local muito próximo colocou uma “pulga atrás da orelha” do delegado. Era mais um padre, dessa vez recém- ordenado, que viera do interior para visitar a família em São Paulo. Mais ossos estraçalhados e a língua fora arrancada. Sem nenhum sinal de luta. Sem testemunhas.  Sem nenhum suspeito e sem solução. O detetive fora chamado. Era óbvio que não se tratava de um crime comum, como aconteciam centenas todos os dias. Alguém ou alguma coisa estava perseguindo aqueles homens e parecia que não iria parar por aí.   Era muito difícil deduzir que tipo de maluco matava padres inocentes. Talvez alguém que tivesse sido vítima de abusos sexuais quando criança, ou quem sabe um adorador do demônio, ou até mesmo um crente ou protestante? Seus neurônios quase estavam em chamas de tantas as possibilidades. Colocaram vigias em todas as esquinas próximas do local. Encheram as ruas de câmeras de segurança e criaram uma saleta exclusiva para o monitoramento de tais câmeras.
O tempo passou... Duas semanas e nem mais um assassinato. Certamente o assassino já conseguira o que queria ou então ficara amedrontado pelos novos sistemas de segurança. Mas infelizmente o telefone da delegacia tornou a tocar pelo mesmo motivo: mais um padre fora morto. Dessa vez, sem ossos quebrados, mas a mão direita fora amputada. O detetive estudara muitas seitas satânicas e religiões das mais diversas. Nenhuma semelhança em nenhum dos rituais descritos. Estudou grupos antigos que odiaram a igreja católica, mas não encontrou nenhuma menção de que padres tivessem sido assassinados.
Mais uma semana de calmaria e outro corpo apareceu. Com os mesmos requintes de crueldade. E dez dias se passaram entre esse e o próximo. Todos eles aconteceram de madrugada, como constava nos laudos do legista que realizara as autópsias nos três últimos corpos, e ocorreram em locais de grande movimento ou muito próximos deles.
No dia em que completaria dois meses desde o primeiro homicídio, Victor fora encontrado ainda com vida e sem nenhum membro faltando. O fêmur fora quebrado, mas nada que não pudesse ser “consertado”. Era lógico que o mesmo agressor que matara os outros clérigos também havia atacado Victor. Todas as características batiam perfeitamente. Agora restavam somente duas perguntas: quem e por quê?
Michael terminara de ler o relato desesperado de Jéssica. Via pelas suas vestes rasgadas e sujas que só podia estar falando a verdade. Mais cedo, no hospital, quando lhe dissera que esteve a fazer pesquisas de campo, ele percebeu que havia algo muito errado. Ninguém deixa um amigo em coma, agonizando no hospital e perde tempo com pesquisas de campo, pensou. Telefonou para a universidade e constatou que Jéssica não aparecia no trabalho há vários dias. Levantou a ficha dela inteira e juntou às informações que já tinha recebido de outros investigadores. Entrevistou por telefone algumas pessoas do convívio da moça e até mesmo seus parentes distantes. Ela é inocente! Nunca teve nada a ver com isso, concluiu. E agora o delegado estava cometendo uma grande injustiça com aquela pobre moça. Ele não podia permitir. Que tipo de justiça era aquela, que prendia inocentes para protegê-los?
— Sim. Ela é inocente, mas está correndo perigo.
— Eu entendo, delegado, mas não podemos deixá-la aqui. Olhe para ela... — o delegado olhou de relance pela fresta da porta, de onde se podia ver a janela de vidro que dava para o corredor apertado. Jéssica estava aconchegada ao peito de Ricardo, abraçada nas batinas e na bíblia de Victor. Ele não conseguiu definir se estava chorando ou apenas cochilava. Mas encolhia-se bem perto do corpo do homem, como se estivesse com frio e tentasse se aquecer. Por um instante, ele também teve pena de Jéssica, mas foi só por um instante.
— Então o que sugere, detetive? Quer passar esta noite de sentinela no apartamento da senhorita Salles?
— Na verdade eu estava pensando em levá-los para a minha casa.
— Ficou maluco? — indignou-se o delegado.
            — Não, senhor. Apenas acho que seria mais seguro para todos nós. Se houver uma nova invasão no apartamento dela, eu sozinho não saberei como protegê-los. Talvez não tenha tempo para pedir reforços. Passaremos a noite em claro, esperando o pior. — Ele fez uma pausa, respirou fundo e depois continuou: — Mas ninguém vai saber se eles forem para a minha casa.
— Eu tenho alternativa? — perguntou o delegado, dando uma última espiadela pela pequena abertura.


Raquel Pagno
 www.raquelpagno.com



6 comentários:

  1. Raquel!
    O que será que está por trás de tantas mortes de padres?
    Fiquei intrigada e ainda não consegui desvendar o mistério por trás de tudo...
    Aguardando o próximo capítulo...
    Bom descanso no feriado e um ótimo final de semana!
    Nem sempre terás o que desejas, mas enquanto estiveres ajudando aos outros encontrarás os recursos de que precisas.(Chico Xavier)
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  2. Oi Raquel, a pergunta permanece, porque tantas mortes? Curiosa...
    Bjs, Rose.

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  3. Oi Raquel,
    adorei a história, vou ver se pego desde o começo para ler, fiquei meio perdida! hihihihi
    Bjocas

    Dani - A Estante do Manuel

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  4. Oii, tudo bem?
    Eu sempre me perco nos capitulos rsrs, acho que vou ter que voltar no primeiro e ler tudo de novo, mas vai valer a pena, a historia é ótima.

    www.fonte-da-leitura.blogspot.com.br

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  5. Deve ser alguém da família da Jéssica, ciúme da religião, sempre tem um doido...rsrsrs
    Porque ela não estava indo trabalhar...O pior é arrancarem algo do corpo, o danado mata e guarda partes como colecionador, credo.
    Eu também acho que ela tem que ficar presa, só assim vamos saber se ela é vítima mesmo ou se é isca...
    Puxa vida fiquei curiosa!

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  6. Uau!
    Achei bem visceral, padre morto brutalmente, que enredo forte, não acompanhei o restante, o que confude um pouco, mas o que li hoje me pareceu bem legal!
    Eu fiquei curiosa sobre as mortes :D

    http://www.poesianaalma.com.br/

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