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Capítulo 28
—
Oh Deus, se você existe mesmo, se o seu filho voltou do reino dos mortos,
permita que ele tenha atendido ao meu pedido — pela primeira vez em toda a minha
existência, orei. E pela primeira vez me dei conta de que talvez eu pudesse sim
ter tentado perdoar. Apenas tentado.
Anoitecia
quando cheguei de volta a Jerusalém. Fui direto para o túmulo de Jesus, só para
constatar um sem número de pessoas que rezava e dava glórias aos céus. Muitos
testemunhavam a volta de parentes falecidos, e muitos mais a ascensão do homem
de Nazaré.
Descrevi
Kenora a cada uma daquelas pessoas, mas ninguém a vira. Perguntei-me se as
ressurreições haviam ocorrido apenas em Jerusalém ou se o fenômeno se consumara
em todo o mundo. Não havia resposta. Eu precisaria viajar para Elam, Kenora
estava enterrada entre os montes congelados da cordilheira de Zagros. Mesmo
depois de morta, eu fiz questão de mantê-la em um local seguro, bem longe do
alcance do maldito Adramelech ou dos outros Primeiros. Não queria que seu corpo
fosse profanado, já haviam me roubado a sua vida.
Viajei,
sem me importar com uma possível fuga de Adramelech da caverna. passei dias
atravessando o deserto hostil, só para em fim constatar que tudo permanecia
como estava antes. Como deveria ser, as coisas estavam em seus devidos lugares.
Kenora permanecia morta e com ela, minha última esperança que dera lugar a um
terrível arrependimento por não ter aceitado a condição que lhe devolveria a
vida. E quem sabe, me salvasse.
Mais
um fardo. Era isso que a culpa acarretava. Um imenso farto que iria comigo pelo
resto da minha existência.
Efrat
mantivera Adramelech preso, depois de uma semana, retornei e reassumi o meu
posto de guardião. A besta parecia ainda menor e mais encolhida. Mas não mais
machucado do que eu o deixara. Efrat não lhe tocara.
Outra
vez, descarreguei naquele corpo ancião minhas frustrações. Depois de tudo, eu
retornava ao ponto inicial: precisava encontrar uma maneira de acabar com
Adramelech definitivamente. No entanto, outro objetivo surgira: eu mataria o
demônio que me amaldiçoou e matou minha amada, e depois seguiria em busca dos
outros três. Seria o fim do reinado sobre-humano dos Quatro Primeiros. E seria
através de minhas mãos que o seu legado macabro findaria.
Outros textos em: www.raquelpagno.com
Vou dar uma espiadinha nesse conto 🙈
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