No Meu Mundo...

26 fevereiro 2016


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Capítulo 28


— Oh Deus, se você existe mesmo, se o seu filho voltou do reino dos mortos, permita que ele tenha atendido ao meu pedido — pela primeira vez em toda a minha existência, orei. E pela primeira vez me dei conta de que talvez eu pudesse sim ter tentado perdoar. Apenas tentado.
Anoitecia quando cheguei de volta a Jerusalém. Fui direto para o túmulo de Jesus, só para constatar um sem número de pessoas que rezava e dava glórias aos céus. Muitos testemunhavam a volta de parentes falecidos, e muitos mais a ascensão do homem de Nazaré.
Descrevi Kenora a cada uma daquelas pessoas, mas ninguém a vira. Perguntei-me se as ressurreições haviam ocorrido apenas em Jerusalém ou se o fenômeno se consumara em todo o mundo. Não havia resposta. Eu precisaria viajar para Elam, Kenora estava enterrada entre os montes congelados da cordilheira de Zagros. Mesmo depois de morta, eu fiz questão de mantê-la em um local seguro, bem longe do alcance do maldito Adramelech ou dos outros Primeiros. Não queria que seu corpo fosse profanado, já haviam me roubado a sua vida.
Viajei, sem me importar com uma possível fuga de Adramelech da caverna. passei dias atravessando o deserto hostil, só para em fim constatar que tudo permanecia como estava antes. Como deveria ser, as coisas estavam em seus devidos lugares. Kenora permanecia morta e com ela, minha última esperança que dera lugar a um terrível arrependimento por não ter aceitado a condição que lhe devolveria a vida. E quem sabe, me salvasse.
Mais um fardo. Era isso que a culpa acarretava. Um imenso farto que iria comigo pelo resto da minha existência.
Efrat mantivera Adramelech preso, depois de uma semana, retornei e reassumi o meu posto de guardião. A besta parecia ainda menor e mais encolhida. Mas não mais machucado do que eu o deixara. Efrat não lhe tocara.

Outra vez, descarreguei naquele corpo ancião minhas frustrações. Depois de tudo, eu retornava ao ponto inicial: precisava encontrar uma maneira de acabar com Adramelech definitivamente. No entanto, outro objetivo surgira: eu mataria o demônio que me amaldiçoou e matou minha amada, e depois seguiria em busca dos outros três. Seria o fim do reinado sobre-humano dos Quatro Primeiros. E seria através de minhas mãos que o seu legado macabro findaria.


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