No Meu Mundo...

09 janeiro 2015


Boa leitura! Ansiosa pelos comentários. rsrs

CAPÍTULO 14

A fechadura girou rangendo o que fez com que Ricardo abrisse a boca para soltar um grito de pavor. Jéssica o conteve a tempo. A fechadura tornou a girar, como se pessoa do outro lado tivesse desistido de entrar no dormitório. Os passos recomeçaram, mas desta vez se afastando do local. Ricardo respirou fundo, aliviado. As pernas de Jéssica tremiam e mal conseguiam sustentar o peso do corpo. Os dois suavam frio. Não fora sua intenção entrar ali às escondidas e agora era tarde demais pra voltar atrás. Depois de tudo o que ouviram, não poderiam simplesmente sair pela porta da frente, como se fossem visitantes desavisados. Era bem capaz que tentassem alguma coisa contra os dois.
— O jeito é sairmos pela janela. Aquele cara deve estar lá na recepção. Não vai dar pra passarmos por lá sem ele nos ver — disse Ricardo, preocupado.
— Mas ainda não achamos o que viemos procurar. Ajude-me, Ricardo, rápido! Vamos levar esses livros aqui e os papéis que estão na gaveta do criado-mudo. Não é possível que ele não tenha anotado nenhum endereço em algum desses papéis. Vamos, guarde-os aqui na minha bolsa.
Ricardo apressou-se em juntar todas as folhas soltas que Victor guardava na gaveta ao lado da cama. Ainda ergueu a beirada do colchão para ver se tinha alguma coisa importante guardada ali, mas não havia nada.
Em menos de cinco minutos haviam juntado todo o possível. A bolsa de Jéssica estava abarrotada e não sobrara espaço para mais nem uma agulha. Os dois se apressaram a sair do local, temendo a volta de algum dos padres. A janela não estava trancada com cadeado, mas no lado de fora uma pesada grade de ferro fora soldada à parede. Não tinha como escaparem sem passar pela recepção.
— E agora, como sairemos daqui? Se eles nos virem e se desconfiarem que ouvimos sua conversa, é bem capaz de nos prenderem aqui! — disse ela.
— Se for só isso, podemos nos considerar pessoas de sorte. Pior é se fizerem conosco o mesmo que fizeram com Victor. Vamos para o outro extremo do corredor, podemos encontrar uma porta nos fundos.
— Já que não temos outra escolha. Mas eu vou na frente.
Saíram do quarto, caminhando na ponta dos pés para não fazer ruídos. Uma pessoa parecia vir de dentro de um dos quartos e eles tiveram que se encolher atrás de uma porta semiaberta.
O homem de batina tinha os cabelos muito brancos e aparentava mais de oitenta anos. Ele não os viu, apenas seguiu para a pequena recepção carregando embaixo do braço um livro, parecia uma bíblia. Ricardo estava apavorado e novamente Jéssica teve de contê-lo para que não gritasse. Quando o homem sumiu, eles continuaram sua perigosa caminhada. Algumas portas estavam abertas e deixavam à vista imagens de santos e crucifixos. Em algumas cabeceiras, a imagem de Cristo crucificado jazia pendurada no alto, velando com toda a crueldade da imagem, o sono de quem lá repousava todas as noites. Perceberam que havia muitas estantes recheadas de livros, porém na última porta, estranhamente, não se via nenhuma daquelas imagens sacras. Era uma espécie de sala de manicômio, forrada por inteiro de um tecido vermelho, acolchoado. Não dava para ver direito, mas parecia não ter janela e nenhuma fonte de iluminação natural.
— O que é isso! — exclamou Ricardo. Ela apenas olhou para o rapaz. Seus olhos deixavam transparecer o pavor que estava sentindo. Parecia ter entrado em um filme de terror e não tinha a menor ideia de como sair.
— Oh, veja, Miguel! Temos visitas! — Uma voz masculina, forte, rouca e tomada de uma calma desconcertante acabara de mencionar essas palavras atrás deles. Estariam observando-os desde o início?
— É, e parece que vieram procurar alguma coisa, não é, menina? — disse o outro homem, também de batina. O primeiro aparentava ser muito amistoso e transmitia certo conforto para quem o ouvia. Mais um velho padre, como os que haviam visto ali, até então. O segundo, chamado Miguel, deveria ter cerca de sessenta e cinco anos e ao contrário dos demais, tinha cabelos surpreendentemente negros. Sua aparência antipática fazia lembrar os velhos carrascos medievais dos livros de história.
— Desculpe, não... Nós só queríamos... — balbuciou Jéssica — precisamos entrar em contato com a família de Victor.
— Ah, o pobre Victor! Que Deus tenha piedade da sua alma!
— Do que está falando? Ele não está morto — disse Ricardo para Miguel.
— Sim, é claro que não está morto! Não foi isso que eu quis dizer — corrigiu-se o homem. — Quem são vocês? Foram mandados por ele? Ou vieram visitá-lo?
— Infelizmente parece que vocês ainda não foram avisados sobre o que aconteceu com Victor. Ele foi cruelmente espancado por um grupo de... Não sabemos por quem. O fato é que está entre a vida e a morte e terá que fazer uma cirurgia no cérebro o mais breve possível. Precisamos da autorização de alguém da família, ou então ele não será operado. Estávamos procurando algum endereço ou telefone dos seus familiares da Itália.
— Minha nossa! Victor não tem nenhum familiar. Foi praticamente criado pela Igreja desde que ainda era um menino. Nós não podemos ajudá-la, mas se quiser mandaremos uma carta para o médico, explicando essa situação e nos colocando inteiramente como responsáveis pela saúde de Victor.
— Por favor, nós agradeceríamos muito, não é Ricardo? — respondeu ela, olhando para Ricardo que encarava Miguel nos olhos, com um ar meio ameaçador e sem acreditar em uma palavra do que o homem dizia. Ele permaneceu quieto, sem responder à pergunta que lhe fora feita e sem desviar o olhar.
O sacerdote mais idoso pediu que eles o acompanhassem até um pequeno escritório, atrás de uma das portas trancadas a chave. Um computador e uma impressora sobre uma escrivaninha improvisada e duas cadeiras de madeira com assento de palha era só o que havia no cômodo minúsculo. O homem sentou-se em uma das cadeiras e pediu que Jéssica se sentasse na outra. Ela preferiu ficar onde estava. Miguel permaneceu na porta, espreitando o corredor comprido, enquanto o atestado era digitado pelo outro, sem muita agilidade. De repente, aproximou-se de Ricardo por trás e empurrou a porta com o pé, causando um eco alto na pequena sala.
— Perdoem! — sussurrou. Ricardo não gostou da proximidade de Miguel. Pensou que ele queria dizer-lhes algo, podia sentir a respiração quente em seu pescoço, como de um vampiro faminto. Virou-se e encarou-o novamente. Seus olhos estavam fixos na bolsa de Jéssica, esturricada dos papéis de Victor. Era como se perguntasse telepaticamente, “o que vocês querem? O que vieram fazer aqui?”.
O papel foi assinado e entregue à moça. Os dois padres acompanharam os visitantes até a saída. Jéssica agradeceu e partiram depressa.
— Você viu, Miguel, quantas coisas eles levaram do quarto de Victor?
— É claro que vi. Não precisa se preocupar, meu caro, eles não vão muito longe com as informações que porventura possam ter encontrado, muito embora eu pense que Victor não seria tolo o bastante para deixar qualquer pista por aqui.

Raquel Pagno
 www.raquelpagno.com    



3 comentários:

  1. Achei a história bastante complexa e envolvente. Pretendo ler os capítulos seguintes e os antecessores e com certeza irei ama-los.

    ResponderExcluir
  2. Gente que tensão nesse capítulo. Confesso que as batidas do meu coração aumentaram ao ler. Agora o capítulo 15 vai ser devorado, pois a cada novo eu fico mais nervosa do que pode acontecer. :D

    Muito bom, Raquel.

    Beijos,

    Amy - Macchiato

    ResponderExcluir
  3. Oi raquel, como disse na postagem anterior, estou marcando para poder ler na ordem.
    Bjs, rose

    ResponderExcluir