Boa leitura! Ansiosa pelos comentários. rsrs
CAPÍTULO 14
A fechadura girou
rangendo o que fez com que Ricardo abrisse a boca para soltar um grito de
pavor. Jéssica o conteve a tempo. A fechadura tornou a girar, como se pessoa do
outro lado tivesse desistido de entrar no dormitório. Os passos recomeçaram,
mas desta vez se afastando do local. Ricardo respirou fundo, aliviado. As
pernas de Jéssica tremiam e mal conseguiam sustentar o peso do corpo. Os dois
suavam frio. Não fora sua intenção entrar ali às escondidas e agora era tarde
demais pra voltar atrás. Depois de tudo o que ouviram, não poderiam
simplesmente sair pela porta da frente, como se fossem visitantes desavisados.
Era bem capaz que tentassem alguma coisa contra os dois.
— O jeito é sairmos
pela janela. Aquele cara deve estar lá na recepção. Não vai dar pra passarmos
por lá sem ele nos ver — disse Ricardo, preocupado.
— Mas ainda não achamos
o que viemos procurar. Ajude-me, Ricardo, rápido! Vamos levar esses livros aqui
e os papéis que estão na gaveta do criado-mudo. Não é possível que ele não
tenha anotado nenhum endereço em algum desses papéis. Vamos, guarde-os aqui na
minha bolsa.
Ricardo apressou-se em
juntar todas as folhas soltas que Victor guardava na gaveta ao lado da cama.
Ainda ergueu a beirada do colchão para ver se tinha alguma coisa importante
guardada ali, mas não havia nada.
Em menos de cinco
minutos haviam juntado todo o possível. A bolsa de Jéssica estava abarrotada e
não sobrara espaço para mais nem uma agulha. Os dois se apressaram a sair do
local, temendo a volta de algum dos padres. A janela não estava trancada com
cadeado, mas no lado de fora uma pesada grade de ferro fora soldada à parede.
Não tinha como escaparem sem passar pela recepção.
— E agora, como
sairemos daqui? Se eles nos virem e se desconfiarem que ouvimos sua conversa, é
bem capaz de nos prenderem aqui! — disse ela.
— Se for só isso,
podemos nos considerar pessoas de sorte. Pior é se fizerem conosco o mesmo que
fizeram com Victor. Vamos para o outro extremo do corredor, podemos encontrar
uma porta nos fundos.
— Já que não temos
outra escolha. Mas eu vou na frente.
Saíram do quarto,
caminhando na ponta dos pés para não fazer ruídos. Uma pessoa parecia vir de
dentro de um dos quartos e eles tiveram que se encolher atrás de uma porta
semiaberta.
O homem de batina tinha
os cabelos muito brancos e aparentava mais de oitenta anos. Ele não os viu,
apenas seguiu para a pequena recepção carregando embaixo do braço um livro,
parecia uma bíblia. Ricardo estava apavorado e novamente Jéssica teve de
contê-lo para que não gritasse. Quando o homem sumiu, eles continuaram sua
perigosa caminhada. Algumas portas estavam abertas e deixavam à vista imagens
de santos e crucifixos. Em algumas cabeceiras, a imagem de Cristo crucificado
jazia pendurada no alto, velando com toda a crueldade da imagem, o sono de quem
lá repousava todas as noites. Perceberam que havia muitas estantes recheadas de
livros, porém na última porta, estranhamente, não se via nenhuma daquelas
imagens sacras. Era uma espécie de sala de manicômio, forrada por inteiro de um
tecido vermelho, acolchoado. Não dava para ver direito, mas parecia não ter
janela e nenhuma fonte de iluminação natural.
— O que é isso! —
exclamou Ricardo. Ela apenas olhou para o rapaz. Seus olhos deixavam
transparecer o pavor que estava sentindo. Parecia ter entrado em um filme de
terror e não tinha a menor ideia de como sair.
— Oh, veja, Miguel!
Temos visitas! — Uma voz masculina, forte, rouca e tomada de uma calma
desconcertante acabara de mencionar essas palavras atrás deles. Estariam observando-os
desde o início?
— É, e parece que
vieram procurar alguma coisa, não é, menina? — disse o outro homem, também de
batina. O primeiro aparentava ser muito amistoso e transmitia certo conforto
para quem o ouvia. Mais um velho padre, como os que haviam visto ali, até
então. O segundo, chamado Miguel, deveria ter cerca de sessenta e cinco anos e
ao contrário dos demais, tinha cabelos surpreendentemente negros. Sua aparência
antipática fazia lembrar os velhos carrascos medievais dos livros de história.
— Desculpe, não... Nós
só queríamos... — balbuciou Jéssica — precisamos entrar em contato com a
família de Victor.
— Ah, o pobre Victor!
Que Deus tenha piedade da sua alma!
— Do que está falando?
Ele não está morto — disse Ricardo para Miguel.
— Sim, é claro que não
está morto! Não foi isso que eu quis dizer — corrigiu-se o homem. — Quem são
vocês? Foram mandados por ele? Ou vieram visitá-lo?
— Infelizmente parece
que vocês ainda não foram avisados sobre o que aconteceu com Victor. Ele foi
cruelmente espancado por um grupo de... Não sabemos por quem. O fato é que está
entre a vida e a morte e terá que fazer uma cirurgia no cérebro o mais breve
possível. Precisamos da autorização de alguém da família, ou então ele não será
operado. Estávamos procurando algum endereço ou telefone dos seus familiares da
Itália.
— Minha nossa! Victor
não tem nenhum familiar. Foi praticamente criado pela Igreja desde que ainda
era um menino. Nós não podemos ajudá-la, mas se quiser mandaremos uma carta
para o médico, explicando essa situação e nos colocando inteiramente como
responsáveis pela saúde de Victor.
— Por favor, nós
agradeceríamos muito, não é Ricardo? — respondeu ela, olhando para Ricardo que
encarava Miguel nos olhos, com um ar meio ameaçador e sem acreditar em uma palavra
do que o homem dizia. Ele permaneceu quieto, sem responder à pergunta que lhe
fora feita e sem desviar o olhar.
O sacerdote mais idoso
pediu que eles o acompanhassem até um pequeno escritório, atrás de uma das
portas trancadas a chave. Um computador e uma impressora sobre uma escrivaninha
improvisada e duas cadeiras de madeira com assento de palha era só o que havia
no cômodo minúsculo. O homem sentou-se em uma das cadeiras e pediu que Jéssica
se sentasse na outra. Ela preferiu ficar onde estava. Miguel permaneceu na
porta, espreitando o corredor comprido, enquanto o atestado era digitado pelo
outro, sem muita agilidade. De repente, aproximou-se de Ricardo por trás e
empurrou a porta com o pé, causando um eco alto na pequena sala.
— Perdoem! — sussurrou.
Ricardo não gostou da proximidade de Miguel. Pensou que ele queria dizer-lhes
algo, podia sentir a respiração quente em seu pescoço, como de um vampiro
faminto. Virou-se e encarou-o novamente. Seus olhos estavam fixos na bolsa de
Jéssica, esturricada dos papéis de Victor. Era como se perguntasse
telepaticamente, “o que vocês querem? O que vieram fazer aqui?”.
O papel foi assinado e
entregue à moça. Os dois padres acompanharam os visitantes até a saída. Jéssica
agradeceu e partiram depressa.
— Você viu, Miguel,
quantas coisas eles levaram do quarto de Victor?
— É claro que vi. Não
precisa se preocupar, meu caro, eles não vão muito longe com as informações que
porventura possam ter encontrado, muito embora eu pense que Victor não seria
tolo o bastante para deixar qualquer pista por aqui.
Raquel Pagno
www.raquelpagno.com
Achei a história bastante complexa e envolvente. Pretendo ler os capítulos seguintes e os antecessores e com certeza irei ama-los.
ResponderExcluirGente que tensão nesse capítulo. Confesso que as batidas do meu coração aumentaram ao ler. Agora o capítulo 15 vai ser devorado, pois a cada novo eu fico mais nervosa do que pode acontecer. :D
ResponderExcluirMuito bom, Raquel.
Beijos,
Amy - Macchiato
Oi raquel, como disse na postagem anterior, estou marcando para poder ler na ordem.
ResponderExcluirBjs, rose