Capítulo 6
Fui
me entranhando no meio das pessoas, nadando contra a maré de gente que o
seguia. Quando desviei dos últimos homens, pronto para seguir viagem de novo
rumo ao norte a procura dos bruxos, reconheci o cão branco que, não muito
longe, me encarava. Efrat.
Olhei
para trás, para ter certeza de que ninguém me observava. Estavam todos
concentrados, entoando o Salmo 118. Pobres coitados.
—
Efrat? O que está fazendo aqui? Por onde andou todos esses dias? — perguntei,
sem realmente me importar com a resposta.
—
Estive em Betânia, sabia que você viria atrás do Messias, então antecipei-me e
o segui até aqui.
—
O Messias... Você realmente acredita nisso? Por que eu não vi nada de
espetacular naquele homem.
—
Mas, eu vi. — Efrat desviou o olhar, depois virou-se de costas para mim. Sua
voz não foi mais do que um sussurro, o que me fez pensar que se arrependera
imediatamente do que falara.
—
Como assim?
—
Ouvi os boatos que correm por aí sobre esse nazareno. Sabia que mais cedo ou
mais tarde, isso iria acabar chegando aos seus ouvidos, Asher. Não nasci ontem,
não é preciso ser muito esperto para deduzir o que isso significaria pra você.
—
Não sei do que está falando. — disfarcei.
—
Vai me dizer que não passou pela sua cabeça que ele pode trazer Kenora de
volta? Eu te conheço, conheci o seu amor por aquela bruxa. — Efrat voltou-se
para mim, encarando-me. Eu não poderia mentir ao meu mestre.
—
Infelizmente, eu estava errado. Ele não é mais do que um simples homem. Não
pode me ajudar.
—
E se eu te disser que ele pode? E se eu te contar que eu mesmo vi esse homem
trazer uma alma de volta do outro lado?
—
Você não deveria brincar com essas coisas Efrat. Será que ele é algum tipo de
feiticeiro e lançou um encanto nesse povo todo, inclusive em você? Por que
bruxo eu percebi que ele não é. — a indignação explícita em minha voz fez com
que os olhos de Efrat se arregalassem.
—
Me escute, Asher, eu estou dizendo que vi esse homem trazer uma alma de volta
do mundo dos mortos. Você acha mesmo que eu
cederia a qualquer tipo de encantamento? Estou nesse mundo há muitos milênios,
creio que aprendi a me defender desse tipo de ardil. — Efrat elevara um tom em
sua voz. Não estava mentindo pra me dar falsas esperanças, falava a verdade. Ou
ao menos o que ele pensava que fosse a verdade. Fiquei em silêncio e olhei em
seus olhos, decidido a ouvir tudo o que ele tinha pra me contar, antes de
julgá-lo. A esperança ainda estava viva, mas se eu a deixasse aflorar
novamente, sofreria.
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