No Meu Mundo...

11 setembro 2015


Capítulo 6


Fui me entranhando no meio das pessoas, nadando contra a maré de gente que o seguia. Quando desviei dos últimos homens, pronto para seguir viagem de novo rumo ao norte a procura dos bruxos, reconheci o cão branco que, não muito longe, me encarava. Efrat.
Olhei para trás, para ter certeza de que ninguém me observava. Estavam todos concentrados, entoando o Salmo 118. Pobres coitados.
— Efrat? O que está fazendo aqui? Por onde andou todos esses dias? — perguntei, sem realmente me importar com a resposta.
— Estive em Betânia, sabia que você viria atrás do Messias, então antecipei-me e o segui até aqui.
— O Messias... Você realmente acredita nisso? Por que eu não vi nada de espetacular naquele homem.
— Mas, eu vi. — Efrat desviou o olhar, depois virou-se de costas para mim. Sua voz não foi mais do que um sussurro, o que me fez pensar que se arrependera imediatamente do que falara.
— Como assim?
— Ouvi os boatos que correm por aí sobre esse nazareno. Sabia que mais cedo ou mais tarde, isso iria acabar chegando aos seus ouvidos, Asher. Não nasci ontem, não é preciso ser muito esperto para deduzir o que isso significaria pra você.
— Não sei do que está falando. — disfarcei.
— Vai me dizer que não passou pela sua cabeça que ele pode trazer Kenora de volta? Eu te conheço, conheci o seu amor por aquela bruxa. — Efrat voltou-se para mim, encarando-me. Eu não poderia mentir ao meu mestre.
— Infelizmente, eu estava errado. Ele não é mais do que um simples homem. Não pode me ajudar.
— E se eu te disser que ele pode? E se eu te contar que eu mesmo vi esse homem trazer uma alma de volta do outro lado?
— Você não deveria brincar com essas coisas Efrat. Será que ele é algum tipo de feiticeiro e lançou um encanto nesse povo todo, inclusive em você? Por que bruxo eu percebi que ele não é. — a indignação explícita em minha voz fez com que os olhos de Efrat se arregalassem.

— Me escute, Asher, eu estou dizendo que vi esse homem trazer uma alma de volta do mundo dos mortos. Você acha mesmo que eu cederia a qualquer tipo de encantamento? Estou nesse mundo há muitos milênios, creio que aprendi a me defender desse tipo de ardil. — Efrat elevara um tom em sua voz. Não estava mentindo pra me dar falsas esperanças, falava a verdade. Ou ao menos o que ele pensava que fosse a verdade. Fiquei em silêncio e olhei em seus olhos, decidido a ouvir tudo o que ele tinha pra me contar, antes de julgá-lo. A esperança ainda estava viva, mas se eu a deixasse aflorar novamente, sofreria.

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